Ana Beatriz Siqueira Bittencourt

UM PANORAMA GERAL: O JUDAÍSMO NA PERSPECTIVA DE AGEU

Introdução
O foco do presente trabalho é analisar a religião Judaica a partir da perspectiva apresentada pelo profeta Ageu, buscando entender a experiência religiosa através de alguns conceitos básicos no campo de estudo da religião.

Nesse sentido, em uma breve introdução, faz-se importante entender o contexto de surgimento e desenvolvimento dos escritos de Ageu. Sua profecia está claramente datada em 520 a.C., segundo ano do reinado de Dario; sendo ele o primeiro dos profetas pós-exílicos ministrou aos judeus remanescentes que haviam voltado do cativeiro da Babilônia.

Cabe destacar que o Judaísmo se consolida no período de incidência da chamada Era Axial. Período datado entre 800 a.C. a 200 a.C. durante o qual se desenvolveu,de forma independente,a mesma linha geral de pensamento em basicamente três regiões do mundo: China (à exemplo do taoísmo, confucionismo), Índia (à exemplo do budismo, bramanismo) e no Ocidente (à exemplo do sofismo, zoroastrismo, judaísmo). “Trata-se de uma nova e radical compreensão da humanidade: à medida que o ser humano se torna consciente do ser como totalidade” (SCHLUCHTER, 2017, p. 24).
Este conceito foi formulado pelo filósofo alemão Karl Jaspers, que considerou este período como a linha divisória mais profunda da história da humanidade; manifesto em formulações que marcam até hoje grande parte do nosso entendimento religioso. “Jaspers afirma que esta mudança se deu no âmbito da reflexão, ou seja, na consciência da própria consciência, ou, em seu conjunto, pela espiritualização e por uma nova forma de comunicabilidade” (SCHLUCHTER, 2017, p. 24). Em suma, as religiões desenvolvidas nesse período possuem, em geral, por características a consciência do homem de si mesmo e das suas limitações, sendo o modo de agir e os costumes postos em causa, busca-sea salvação pessoal através da reflexão.

As Dominações
Tomando por base o a ideia de Weber acerca da dominação, “ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato” (WEBER, 1982, p.128), tem-se a divisão no que ele considera como os três tipo puros de dominação: a dominação legal, a tradicional e a carismática. A primeira gira em torno da questão do estatuto, sendo o dominador eleito e seus poderes garantidos pela lei; se obedece à regra instituída, a qual estabelece ao mesmo tempo a quem e em qual medida se deve obedecer. A segunda se mostra através da tradição, onde se percebe os poderes como aqueles há muito existentes, dignos de fidelidade, é estabelecido por exemplo na relação do senhor e seus súditos. Por último temos a dominação carismática existente “em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mágicas, revelações de heroísmo, poder intelectual ou de oratória” (WEBER, 1982, p. 134-135).

Nisto cabe considerar que dentre as formas de dominação a que encontramos paralelismo é a dominação carismática, sendo possível identificá-la na experiência do Judaísmo através do profeta Ageu. Em Ageu o carisma é verificável em seu papel reconhecido como profeta e mensageiro do Senhor – indicado, por exemplo, no primeiro capítulo de Ageu, “Veio, pois, a palavra do Senhor, por intermédio do profeta Ageu, dizendo [...] Então Ageu, o mensageiro do Senhor, falou ao povo conforme a mensagem do Senhor, dizendo: Eu sou convosco, diz o Senhor” (Ageu1. 3, 13) –, e no atender do povo ao que ele falava, visto no capítulo 1, versículo 12 do livro de Ageu onde diz que todo povo obedeceu à voz do Senhor e às palavras do profeta.

Ligado a esta questão está o conceito de profetismo, presente no decorrer da história de Israel, é indicado e sintetizado por Eliade como aqueles que “não proclamam sua mensagem na qualidade de membros de uma profissão, mas valendo-se de uma vocação especial [...] declaram-se mensageiros de Deus” (ELIADE, 1978, p. 183-184). Ligado ao que entendemos enquanto dominação carismática, o profeta se encontra em posição de quem foi convocado pelo próprio Deus. “A vocação é decidida por um chamado direto de Javé” (ELIADE, 1978, p. 184). Sem dúvida alguma se entendem como portadores da proclamação de Deus ao povo, em urgência, para admoestação e repreensão. Movidos pela mão de Javé são voz de condução ao povo.

O Sagrado
Os Fenomenólogos da Religião assumem como hipótese de trabalho a afirmação do teólogo e erudito Rudolf Otto, de que a religião não consiste nas suas expressões racionais, e sim na experiência do sagrado. Para Otto, a essência de qualquer religião é a experiência de uma realidade outra que se manifesta na consciência do crente, antes mesmo de ser incorporada nos ritos e nos mitos, e preservada por um grupo de especialistas. Definindo o sagrado como uma categoria a priori, fala que ela existe antes da Religião institucionalizada.

O autor Mircea Eliade insiste nos caracteres de complexidade e totalidade da experiência do sagrado. Este manifestando-se não apenas nas coisas cotidianas, mas através das coisas cotidianas. Para ele, a experiência do sagrado é característica do homem enquanto tal. Sua tese principal é da fenomenologia abrangente da Religião, onde o homem é homo religiosus; propõe-se verifica-la também na sociedade secularizada, ou melhor, ele evidencia o caráter mítico de muitos aspectos de tal sociedade. Analisa com particular atenção o simbolismo religioso.

Destrinchando melhor o conceito de sagrado, Otto esclarece que o sagrado é uma categoria composta constituída por um aspecto racional e um não-racional (em outra tradução, meta-racional). “A complexidade do sagrado decorre principalmente de sua composição: o elemento irracional, o numinoso, e elemento racional, o predicador” (BAY, 2004, p. 6).

Para possibilitar uma posterior análise da categoria especial ou complexa do sagrado, é necessário precisar as noções de racional e não-racional descritas por Otto. Ele define racional como “o que o nosso entendimento apreende e interpreta, o que nos é familiar e pode ser explicitado num conceito, campo de pura clareza” (BAY, 2004, p. 6). Assim, as concepções teístas apresentam como características os conceitos claros da divindade, expressa através de predicados racionais como: todo poderoso, vidente, onipotente, espírito, sumo bem, unidade, dentre outros. Todos eles se apresentam claramente e de maneira acessível ao pensamento, sendo eles con¬dições para o ensinamento da fé.
A noção do racional, nesse sentido, pode ser observada na caracterização do sumo deus, que neste caso é representado pelo Deus do antigo testamento que é visto no texto de Ageu como o todo poderoso, dono de todas as coisas, e enfaticamente e repetitivamente referenciado como o Senhor dos Exércitos. Vale salientar que a concepção de deus no Judaísmo está relacionado a figura de um só Senhor, um único Deus, Yahweh (Javé), Yehowah (Jeová) –, guardando o conceito monoteísta.
A ideia do divino não se esgota apenas com os sintéticos predicados racionais, se encontram na dependência de um objeto. Os predicados são os atributos de um objeto,representam o apoio, masa rigor é algo que não se pode ser esgotado por conceitos. Estamos, portanto, diante do segundo elemento da categoria do sagrado, o elemento não-racional, que é percebido na experiência religiosa, mais especificamente pelo sentimento numinoso, palavra deriva do termo numen em latim. “O elemento numinoso pode ser identificado como um princípio ativo presente na totalidade das religiões, portador da ideia do bem absoluto” (BAY, 2004, p. 6). O sentimento numinoso não é apenas uma mera emoção, mas um estado afetivo.

Sentimento original e específico, é uma categoria de interpretação e avaliação, um estado de alma que se manifesta. Presente na consciência do homem não é possível defini-lo, sendo porém concebível descrever as reações provocadas pela experimentação da presença do próprio numen. Na descrição do deste tentamos especificar o matiz dos sentimentos que se relacionam com o objeto. O objeto numinoso é o elemento primário, e o sentimento de ser criatura o elemento secundário. Ou seja, o sentimento de criatura é a sombra projetada pelo objeto na consciência.De tal forma, analisando a religião aqui abordada, é possível classificar as percepções de Ageu como secundárias; refletidas na experimentação dele, e em seu reconhecimento de humanidade frente ao Criador de tudo e todos.
Fruto do elemento não-racional do sagrado, o mysterium pode gerar três diferentes sentimentos: o tremendum, o majestas e a orgê. O tremendo faz temer e tremer, pode também ser a manifestação da justiça divina. Verificável na experiência do Judaísmo no temor ao Senhor, e na implementação da ira de Deus através da punição das transgressões, por exemplo ao ordenar a seca sobre a terra em Ageu 1: 10, 11. Se considerarmos a experiência do profeta, o texto fala a respeito dele ter visões e falar acerta da palavra revelada, assim é intrínseco à situação o reconhecimento do caráter de Deus e a percepção de toda a sua glória; ele mesmo destaca em sua fala o poder que faz tremer a terra e os homens.

O aspecto seguinte é o majestas, sendo ele também a manifestação do deus vivo, é o poder da majestade. Frente à superioridade gera-se o sentimento do ser criatura. Em uma superioridade mais absoluta de poder há a junção dos termos, o tremenda majestas. Captando a soberania absoluta do objeto, tem-se a percepção da plena presença, um sentimento de plenitude do ser. Nesse caso é também relacionado à experiência do Judaísmo, onde se percebe a imagem do Deus superior e Criador de todas as coisas.

A orgê é a energia do numinoso, manifesta principalmente no misticismo. “Caracteriza-se como a energia impetuosa da experiência religiosa, a qual provoca na alma o estado de excitação, de ardor heroico, de impulsividade, é o Deus que queima” (BAY, 2004, p. 8). Neste caso, entretanto, pela especificidade do sentimento, não é possível identifica-lo explicitamente na experiência do Judaísmo relatado por Ageu.

O elemento do fascinans, apresentado como valor subjetivo do numen, é dividido em dois componentes, o sanctum e o sebastus. O sanctum, também chamado de augustus, é a expressão da qualidade da santidade absoluta da divindade. Apresenta também em contraste a consciência de profanidade, um sentimento de não dignidade. Visto isso, pode-se citar em uma relação bem próxima, a figura de Deus no Judaísmo, onde se apresenta, como o único santo e merecedor de glória; indicando também a importância do caráter de purificação e santificação.

O sebastus refere-se à prudência e ao respeito diante da divindade, é a baliza dos valores éticos e morais, “uma vez que a ética em sua essência é algo mais que uma elaboração social ou cultural num momento histórico, é uma racionalização decorrente dos sentimentos que o numinoso desencadeia” (BAY, 2004, p. 9). No Judaísmo isto se vê no compromisso com os valores e as leis dadas por Deus.
Por fim, estabelece-se a diferenciação entre o sagrado e o profano, observando os rituais e processos de purificação. Na experiência Judaica o profano está ligado à ideia do pecado, que contamina e torna imundo, em contraste a concepção de um deus santo, poderoso e único merecedor de toda glória. Tal fraqueza advém da raiz pecaminosa do homem, se apresentando como consequência do pecado original – referência ao relato do erro cometido por Adão e Eva contra Deus, presente no primeiro livro da Bíblia, Gênesis.

Como apresentado no segundo capítulo do livro de Ageu, em dado momento a palavra do Senhor vem por intermédio do profeta Ageu a fim de repreender o povo acerca de suas práticas:

“E disse Ageu: Se alguém que for contaminado pelo contato com o corpo morto, tocar nalguma destas coisas, ficará imunda? E os sacerdotes responderam, dizendo: Ficará imunda. Então respondeu Ageu, dizendo: Assim é este povo, e assim é esta nação diante de mim, diz o Senhor; e assim é toda a obra das suas mãos; e tudo o que ali oferecem imundo é” (Ageu 2. 13, 14). 

É perceptível a presença e o confronto da dualidade do que é sagrado e do que é profano. Outro destaque se dá às implicações geradas pelo contato com o imundo, onde se torna impuro tudo aquilo que tem contato com o que em essência profana ao Senhor, sendo assim rejeitados pelo mesmo. De modo geral, a purificação e expiação dos pecados se davam através do sacrifício de animais, sendo estes imaculados perante os olhos de Deus; uma constante busca pela reconciliação.

Referências
Ana Beatriz Siqueira Bittencourt é graduanda em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF. Atualmente pesquisa sobre as narrativas da guerra Romano-Judaica do primeiro século, sob a orientação do Prof. Dr. Manuel Rolph de Viveiros Cabeceiras.

BAY, Dora Maria Dutra. Fascínio e Terror: O Sagrado. Cadernos de pesquisa interdisciplinar em ciências humanas. nº 61, FPOLIS, dez. 2004.
BÍBLIA. Edição corrigida e revisada. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana (SBTB), 2007.
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas. Tomo I, Volume 2. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
______. História das crenças e das ideias religiosas. Tomo II, Volume 2. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
______. O Sagrado e o Profano: A essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
WIKIPEDIA. Era Axial. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_Axial>. Acessado em 04/12/2017.
SCHLUCHTER, Wolfgang. A modernidade: uma nova (era) cultura axial? Tradução de Carlos Eduardo Sell. Política & Sociedade. Florianópolis, vol. 16, nº 36, maio/ago. 2017, p. 20-43.
WEBER, Max. Os três tipos de dominação legítima. In: Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1982, p. 128-141.

17 comentários:

  1. Prezada Ana, saúde e paz. primeiramente parabéns pelo seu trabalho...sendo o povo judeu tão orgulhoso de seu passado e, orgulhosos de seu chamado especial por sua relação com o Deus único e, depois de vivenciar seu período áureo com Davi e Salomão,lhe pergunto: em sua visão foi este orgulho e sentimento de diferenciação em relação a outros povos que levou este povo a sofrer um duro reves pela invasão e posterior exilio do povo? esta relação entre Jeová e seu povo ficou desgastada por não ter sido protegido contra seus invasores, sendo necessário o envio do profeta Ageu para um reavivamento do judaísmo?
    Abraços e felicitações por seu trabalho...
    Jose Luiz

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    1. Olá José Luiz,

      Muito obrigada pelas parabenizações e por seu comentário.
      Acredito que não, afinal no período esse sentimento de “ser especial” e orgulho da ancestralidade não era restrito aos judeus, de diferentes formas isso se dava também quando pensamos sobre outras sociedades.
      Não vejo a incidência de uma relação “desgastada” com Deus por conta do exílio. Ageu, nesse momento surge como realinhador dos preceitos que não estavam sendo praticados, se estabelece como a voz de Yehowah (Jeová), chamando a atenção do povo ao que era necessário e o que precisava ser reestabelecido. Esse afastamento se deu acredito muito mais pelo pecado do homem, e pelo contato com o profano (em contraste ao sagrado), sendo necessário a purificação e o retorno aos princípios.

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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    2. Prezada Ana, saúde e paz...
      lhe agradeço suas palavras e reitero meus parabens pelo seu belo trabalho.
      Quando comentei sobre o afastamento do povo judeu da essencia do judaísmo tive em mente que que o culpado por este afastamento foi sempre o homem - perdoe-me se não consegui ser mais claro, naquele momento.
      A sua colocação ~e perfeita quando diz que este afastamento deu0se mais por causa do pecado do homem.
      è dentro deste contexto que vejo como Deus é misericordioso, pelo fato de que, mesmo quando o homem infringe a Lei, e recebendo a justa receompensa por isto, Deus ainda levanta vozes - como a de Ageu - , para incitar o povo ao arrependimento e retornar aos principios eternos.
      Vejo desta maneira que o judaismo e a crença inabalavel no Deus único nunca se extinguiu por completo, mesmo durante os varios exilios pelo qual este povo passou....
      E tambem permita-me lhe parabenizar pela escolha das palavras " o contraste do sagrado com o profano" como fator de desestabilização moral, ética e espiritual do povo para com seu Deus...excelente colocação.
      abraços..
      Jose Luiz.

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  2. Boa noite, Ana Beatriz!
    O povo judeu vivia essa constante busca pela reconciliação com seu Deus. Pecava, pedia perdão. Esse tipo de relação deixa a pessoa sempre em constante sintonia com a religião.
    Esse modo de se relacionar com a deidade pode ser uma das causas da religião judaica ter se mantido através dos séculos?
    Acirai Lopes de Almeida.

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    1. Olá Acirai Lopes,

      Acho complicado entender essa relação expressa na religião Judaica como causa direta para sua permanência. Mas certamente essa relação se estabelece como parte constituinte do entendimento da própria religião; onde o homem reconhecendo a grandeza do Deus Criador, reconhece sua condição pecaminosa e busca através do sacrifício a remição dos erros, e novamente a ligação com Yahweh (Javé).

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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  3. Bom dia, Ana!
    Tema muito interessante e texto excelente!
    Os profetas eram mensageiros de Deus e buscavam o concerto do povo com o Senhor e com Ageu não foi diferente. Podemos dizer que neste período a religião judaica sofreu algum tipo de mudança em suas características, assim como aconteceu no surgimento do judaísmo rabínico no século I? ou não? Obrigado.
    Bruno da S. Ogeda - FSB/RJ

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    1. Oi Bruno,

      Primeiramente, muito obrigada!
      Partindo agora para a resposta, o Judaísmo pré-exílico é marcadamente ligado à vivência do Templo; durante o exílio, por sua vez, há um desenvolver melhor estabelecido das sinagogas, ou seja, dos espaços dedicados ao ensino. Com o retorno, período pós-exílio, há a reestruturação do Templo e a retomada dos ritos ligados à ele; cabe salientar, que a partir deste período ganha força o ato de peregrinação à Jerusalem, através do qual os judeus que permaneceram na diáspora vão à Jerusalem como forma de cumprimento dos ritos sacrificiais anuais de remissão dos pecado e oferta – a peregrinação em outras bases já é conhecida desde o tempo dos juízes, mas não com essa força que se ganha no período pós retorno.

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt.

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  4. Bom dia, Ana. Parabéns pelo trabalho. Sobre a perspectiva de Mircea Eliade, quais simbolismos religiosos você encontrou mais na análise do livro e do Profeta Ageu? Você percebe esses "simbolismo religioso" no que Ageu ensina com relação aos Templos, Palácios, governantes, regressos, chamados?

    Att,
    Rodrigo Henrique Araújo da Costa.

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    1. Oi Rodrigo, muito obrigada!

      O autor Mircea Eliade se propõe à uma explanação das religiões; no que tange o Judaísmo ele dá bastantes destaque ao período do profetismo, brevemente explanado no texto. Quanto às categorias e elementos trabalhados por Otto, expostos no texto através de Dora Maria Bay, os que se fazem presente na experiência religiosa do Judaísmo de Ageu podem ser verificadas de diversas formas em diferentes passagens. De forma geral, a proposta é pensar a experiência de Ageu, então sim, é possível observar nos diferentes momentos e ensinamentos passados; entendendo também que a vivência religiosa está baseada no cumprimento dos ritos.

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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  5. Boa noite, boa temática! Você cita o período entre 800 a.c. e 200 a.c. como um período de desenvolvimento de importantes linhas de pensamento e compreeensão da humanidade, as quais ainda são responsáveis por desdobramentos diversos nos dias atuais em diversos locais . Você poderia falar um pouco sobre a relação do Sofismo, Zoroastrismo e principalmente do Judaísmo na formação do pensamento cristão, principalmente antes da institucionalização do mesmo?
    Att, Alaéverton Maicon de Andrade

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    1. Olá Maicon,

      Exatamente, esse período é a conhecida Era Axial.
      De certo, o cristianismo em seu surgimento e desenvolvimento encontra paralelismo à outras religiões, ou mesmo distanciamentos muito bem marcados nos textos da Bíblia (nos livros de Paulo, por exemplo). Com relação ao Judaísmo, as influencias são claras, a medida em que se entende o Cristianismo enquanto uma religião ramificada do mesmo; com relação às análises aqui aplicadas, as experiências do Judaísmo se assemelham bastante, enquanto estrutura, às do Cristianismo. Sobre as demais religiões, fogem um pouco da minha área de pesquisa. Posso entretanto indicar bibliografia para pesquisa, o autor Mircea Eliade citado em meu texto possui um compendio de livros chamado “História das crenças e das ideias religiosas” (ver em referências bibliográficas), que é dividido em três tomos, e subdivididos em volumes; seria ele um bom começo para pesquisa.

      Obrigada pelo interesse!
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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  6. Olá,Ana.
    Gostei bastante do texto e da abordagem sobre a passagem bíblica de Ageu(por não ser uma das mais famosas).Mas ainda não ficou clara, para mim, a relação entre o conceito de numinoso e o profeta Ageu. Qual e como seria essa relação ? Obrigada desde já.
    Att, Yasmin Oliveira Santos

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    1. Oi Yasmin,

      Muito obrigada!!! :)
      Então, o numinoso é parte da compreensão do sagrado, seria a parte irracional da religião, o que não se pode apreender racionalmente; o numem, nesse caso, seria a expressão do próprio Deus. Vale lembrar que aqui eu procuro entender o Judaísmo a partir da experiência e da relação do profeta Ageu com determinada religião. Acho que nessa relação primeira direta, sua dúvida pode ser respondida no entendimento de que o objeto numinoso é o elemento primário, e a experiência vivida pelo profeta, em um reconhecimento visível de ser criatura perante ao Deus Criador, o elemento secundário. Dessa forma, as características pré-estabelecidas por Otto para analise das experiências religiosas, que são depois abordadas no texto como elementos do numinoso, podem encontrar ou não verificação nas percepções de Ageu, assim como descrevo. Consegui me fazer entender ?

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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  7. Bom dia Ana Beatriz, gostei muito do texto, pois nos dá outros pontos de vistas acerca do judaísmo. Como a senhora bem explicitou, Ageu foi um profeta pós-exílico e seus escritos datados de 520 a.C., o Reino de Judá fora levado cativo para a a Babilônia por voltar de 605 a.C. permanecendo exilado aproximadamente até 537 a.C., quando libertados por Ciro, no exílio o povo judeu precisava manter a sua identidade e essa manutenção se deu através de sua religião, contudo, também assimilaram em parte as identidades dos povos que estavam subjugando-os. Com o retorno a palestina, viu-se a necessidade de reestruturar a identidade judaica. A partir dessa exposição e de seu texto, seria correto pensar que o profeta Ageu era nacionalista ao ponto de utilizar a religiosidade para reestruturar a identidade judaica? Haja vista, o profeta incentivou o governador de Judá, Zorobabel, a reconstruir o templo em Jerusalém em detrimento as construções das casas e propriamente da cidade, dessa forma a identidade do povo estaria atrelada ao templo e a religião judaica.

    Atenciosamente.

    Alexandre Leite Rosa

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    1. Boa tarde, Alexandre.

      Obrigada!
      Bem lembrado, isso mesmo!
      Acho importante destacar o perceber da identidade e suas relações enquanto algo fluido e dinâmico, extremamente ligado à alteridade, e à percepção de que as fronteiras só são desenhadas em contraste com o “outro” (vide conceitos em Fredrik Barth, e os estudos de Ciro Flamarion Cardoso).
      Percebo que não se pode entender o pensamento daquele período desassociando religião, política, cultura... Se com nosso olhar contemporâneo é possível identificar certos limites, à época isso não era percebido da mesma forma. No caso judaico, a religião era extremamente atrelada ao entendimento de mundo, parte constituinte do pensamento judeu, logo, a reconstrução do Templo se fazia essencial e emblemática. Guardadas as devidas utilizações do conceito atribuído ao termo “nacionalista”, entendo o profeta Ageu como alguém que naquele período foi levantado para alertar o povo à restauração dos ritos judaicos.

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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  8. Bom dia Ana Beatriz,

    Primeiramente gostaria de parabenizar o seu trabalho que fez uma análise utilizando um livro da bíblia que muitas vezes não citado. Gostaria de perguntar o seguinte, conforme a bíblia relata, o povo judeu por vezes presenciou e participou dos milagres de Deus, sabendo que o ser humano é seduzido pela transcendência, na época do profeta Ageu ocorre um distanciamento do povo para com Deus, podemos afirmar que a falta de sinais e prodígios da época justifica tal distanciamento?

    Att,

    Rodrigo Cezar Mululo

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    1. Boa noite, Rodrigo!

      Obrigada!
      Assim como respondi o Jose Luiz anteriormente (me parece partilharem de contextos bem parecidos)... “Não vejo a incidência de uma relação “desgastada” com Deus por conta do exílio. Ageu, nesse momento surge como realinhador dos preceitos que não estavam sendo praticados, se estabelece como a voz de Yehowah (Jeová), chamando a atenção do povo ao que era necessário e o que precisava ser reestabelecido. Esse afastamento se deu acredito muito mais pelo pecado do homem, e pelo contato com o profano (em contraste ao sagrado), sendo necessário a purificação e o retorno aos princípios.” O distanciamento do povo citado me parece ter muito mais relação com o contato com o que não agradava a Deus e a progressiva perda de princípios do que necessariamente uma culpabilização ou uma falta da manifestação numinosa.

      Att.
      Ana Beatriz S. Bittencourt

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