Arcângelo da Silva Ferreira & Heraldo Márcio Galvão Júnior

MILTON HATOUM: A AMAZÔNIA E O ORIENTE, REAL E IMAGINÁRIO 
(NOTAS ALEATÓRIAS SOBRE UMA TRAJETÓRIA INTELECTUAL)

“A lembrança mais remota da presença do Oriente na minha infância vivida em Manaus remete-se a um espaço e a um corpo. O espaço chamava-se Pensão Fenícia; o corpo é o de um homem idoso, um libanês cujo nome revelava uma forte ressonância islâmica. [...]. Nesse espaço/tempo que é a casa da infância nasce o sentimento que nós temos do diverso: gênese do mundo do exterior, percepção do Outro, abertura para o infinito. Na pensão Fenícia e na outra casa da infância o Oriente era algo ao mesmo tempo muito próximo e muito distante de mim.” (HATOUM, 2008, p. 7 e 9). 

A propósito da epígrafe, o artigo busca tecer um esboço da trajetória intelectual do escritor amazonense Milton Hatoum, elucidando, essencialmente, a Amazônia e o Oriente, real e imaginário. Estes, motes literários herdeiros das experiencias vividas pelo literato desde sua infância. O entrecho acima indica o valor das lembranças, memórias e seus espaços. Esses que se tornaram vetores da arte literária de Hatoum. Iniciemos o percurso, portanto.

De acordo com a página 30 do jornal A folha de São Paulo do dia 19 de outubro de 1991, o tempo era estável naquela manhã de sábado na cidade com maior número de habitantes da América do Sul. As pessoas que se propuseram a ler o jornal paulistano vislumbraram registros de acontecimentos relativos àquele primeiro ano, em que o Brasil respirava os ares de País que, após longos anos sem ter ido às urnas, com o propósito da escolha democrática, havia, em 1989, eleito o primeiro presidente, sob a égide da Constituição de 1988, “a mais progressista e avançada das constituições brasileiras”. (NETTO, 2013, p. 239) .

Anos depois, a sociedade viveria as agruras das políticas econômicas que regeram as primeiras décadas dos anos 1990. O resultado das eleições de 1989 colocou em cena um devastador efeito ao processo democrático, esse que fora herdeiro das lutas sociais e políticas gestadas desde os tempos das Ligas Camponesas, dos tensionamentos forjados no bojo do regime civil-militar. Os brasileiros ficariam sabendo num átimo: apoiando as bandeiras políticas vitoriosas nas referidas eleições, estaria o grande capital; corolárias desse processo, as manobras eleitoreiras, daquele ano fatídico, instalaram seu orgânico projeto de hegemonia. (Idem, p. 240).

Apesar disso, essa conjuntura também plantou a arte: nas páginas do referido jornal, no Caderno de Cultura, estava o depoimento de um escritor amazonense que há poucos anos chegara da Europa, com passagens por Barcelona e Paris, e também, possuía em sua bagagem as experiências vividas na cena literária daquela que outrora fora a “terra da garoa” ( posto que São Paulo é conhecida como terra da garoa porque as chuvas com partículas mais finas de água, as garoas, costumavam ser dos meses de março a junho. Contudo, é bem provável que nos anos de 1990, as modificações causadas a partir das transformações do espaço urbano, na referida cidade, terem provocado a escassez dessas águas que, inclusive, foram inspiração para músicos, escritores.). Nesse testemunho do dia 19 de outubro de 1991, fora revelada parte da trajetória de Hatoum. Inclusive, revelando o processo de criação do livro Relato de um certo Oriente, seu primeiro romance publicado no Brasil. Nesse registro, Milton Hatoum, alude às idiossincrasias de seu processo criativo. “Mil e uma noites em busca de um estilo”, texto assim intitulado pelo escritor à publicação do jornal, é, portanto, pleno de indícios quanto a essa averiguação.

Nessa fonte impressa, o escritor revela, diríamos, o seu ritual de passagem, posto que, com a publicação de “Relatos...” ele se tornaria um escritor legitimado pela crítica literária. Com efeito, para esse primeiro livro, depois de pelo menos três projetos de romance, gestados desde sua passagem por São Paulo, Hatoum afirma que partiu da ideia de urdir um texto lírico, onde diversas vozes narrativas em primeira pessoa iriam se alternar.

Por sinal, o leitor atento ao Relato...  percebe sinais da ideia a qual o escritor se reporta nas páginas finais do referido livro, quando Hatoum, evidencia uma de suas peculiaridades literárias – o fato de no próprio enredo de seus livros sugestionar acerca dos processos de criação e elaboração de suas obras. Portanto, deixa lugar relativo à metalinguagem:

“Confesso que as tentativas foram inúmeras e todas exaustivas, mas ao final de cada passagem, de cada depoimento, tudo se embaralhava em desconexas constelações de episódios, rumores de todos os cantos, fatos medíocres, datas e dados em abundância. Quando conseguia organizar os episódios em desordem ou encadear vozes, então surgia uma lacuna onde habitavam o esquecimento e a hesitação: um espaço morto que minava a sequência de ideias. E isso me alijava do ofício necessário e talvez imperativo que é o de ordenar o relato, para não deixá-lo suspenso, à deriva, modulado pelo acaso.” (HATOUM, 2008, p. 147).

Noutro lugar, Hatoum registra que um dos vetores da literatura é a ambiguidade: “É isso que o livro insinua. É o mistério em torno desse Oriente que está um pouco nebuloso, e ainda não se sabe qual é o Oriente do romance.” (El GEBALY, 2017, p. 1) É sabido que o escritor levou um longo período para estruturar esse coral de vozes que, a propósito, vaza um entrelaçamento das falas de suas personagens, como o fragmento acima desenha. Foi na Europa que Hatoum iniciou a escrituração do romance que viria a se tornar seu livro de estreia na literatura brasileira, Relato...: iniciado na Espanha e terminado no Brasil. Afirma ele: “eu quis pular o muro e fui morar fora do Brasil, nos anos 80, percebi que a distância me ajudou a pensar de outra forma meu passado, minha família, o Brasil. [...]. Percebi que tinha matéria para um romance.” (Idem). As experiências vividas na Europa são significativas:

“Um ano na Espanha e três na França foram marcados pelo estudo das literaturas hispano-americanas e francesas. (...). Hatoum sempre mostrou mais interesse pela arquitetura textual de autores como Carpentier, Juan Carlos Onetti, Mario Vargas Llosa, Lezama Lima, Juan Rulfo, Julio Cortazar, Gabriel Garcia Marquez. Sua obra não partilha o barroquismo da maior parte desses autores, mas tem alguns pontos em comum com a descrição de uma vida em clã de seus efeitos no tempo.” (PIZA, 2007, p. 16). 

Vejam, as generosas pessoas que estão lendo, que nosso escritor saiu do Brasil como incipiente poeta e aspirante a contista. Contudo, as experiências vividas através de suas andanças contribuíram, de forma significativa para fazer-se romancista. Por suas palavras: “[...]. Sou muito lento, meu ritmo é muito amazônico. A minha maior herança, minha amazonidade está na meditação, na lentidão e no absoluto desprezo pela pressa”. (LEAL, 2007, p. 1).  É fecundo esse depoimento. Por um lado, tenciona com a permanente ideia de que as culturas inscritas na Amazônia guardam, historicamente, a indolência, se comparadas ao peculiar ritmo civilizatório. Mas, se tais atitudes podem revelar, aos olhos de outrem, o signo do atraso, por ser lento, essencialmente, surge, através do oficio de Milton Hatoum eficaz e inteligente: a invenção do cotidiano no processo de sua criação literária para “capitalizar vantagens conquistadas, preparando expansões futuras e obter assim para si uma independência em relação à variabilidade das circunstâncias. [...] um domínio do tempo pela fundação de um lugar autônomo”. (CERTEAU, 2008, p. 99).

Paralelo a isso ele concebe a memória como uma espécie de “deusa tutelar da literatura”, pois é a memória que entretece a narrativa de Relato... nessa outra declaração o que foi dito é confirmado:

“[...]. Só comecei a escrever o Relato quando a estrutura da narrativa estava armada. Escrevi à mão depois datilografava tudo, corrigia... Isso parecia não ter fim. Comecei em Barcelona continuei em Paris e terminei em Manaus, em 1987. Não tinha pressa para publicar o manuscrito. O livro só saiu em 1989, depois de muitas correções. Demorei muito tempo para construir o coral de vozes da narrativa. Fui movido por incertezas e hesitações.” (CARPEGIANNI, 2014, p. 1) 

Parece que esse depoimento de Hatoum remete ao registro deixado pela personagem que amálgama o coro de vozes, através de uma missiva, inscrito no Relato...: “a vida começa verdadeiramente com a memória...”. (HATOUM, 2008, p.19.). De fato, foi recorrendo à memória de seus ancestrais que ele atinge o reconhecimento no mundo das letras. Como ele mesmo afirma: “é preciso deixar passar o tempo, esquecer o que passou pra que a memória reconstrua pela linguagem o que poderia ter ocorrido”. (HATOUM, 1991, p. 3.). Vejam as prezadas pessoas que chegaram até aqui: os indícios da memória são cruciais à literatura de Hatoum. Observem o entrecho abaixo extraído de outro livro:

“A memória é o único desafio do passado, de prestar contas com ele, seja através de uma imagem, de uma história oral e escrita. É como se, diante de uma ruína a gente tentasse imaginar a casa antes de sua demolição ou destruição: quem morava ali, como e que tempo viveram aquelas pessoas, como eles se relacionavam entre si, etc. O ponto de partida são as ruínas, e a ficção é uma tentativa de imaginar sua história, reconstruindo o que não existe mais. [grifos de quem escreve esse artigo]” (HATOUM, 2006, p. 25). 

É como se o fragmento fizesse o leitor perceber que o passado é um conjunto de ruínas guardadas nas camadas da memória. (BENJAMIN, 1987, p. 226.). A imagem, desnudada por meio da linguagem, parece se reportar às reflexões de Walter Benjamin sobre outra imagem: o quadro do pintor suíço Paul Klee, intitulado Angelus Novus. Equivalente a isso, as reflexões do mencionado filósofo a propósito do conceito de história. Diz esse, também crítico de artes, que as ruínas são análogas aos acontecimentos com os quais a história é narrada. Alguns acontecimentos são herdeiros de lembranças felizes, outros de reminiscências traumáticas. Mas todos inscrevem memórias, algumas evidentes outras latentes, no tempo. (MATE, 2011, p. 211). Ora, “a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um ‘tempo saturado de agoras’”. (BENJAMIN, 1987, p. 229). Nesse aporte reside a missão de se valer daquilo que foi esquecido no tempo pretérito. Cabe à História, e por extensão, à ficção, salvar o passado, elaborando no presente a história dos silenciados: deixados nos escombros, velados pelas ruínas da memória; como assevera Hatoum ao lembrar-se do valor da ficção, o imaginar a casa e a sociabilidade entre seus moradores muito antes de sua demolição. Em suma, tanto em Benjamin como em Hatoum a imagem das ruínas pressupõe a referida acepção de história.

Às pessoas que estão lendo, é pertinente relembrar que a decisão do escritor amazonense, no que diz respeito a estrutura narrativa de seu primeiro romance, a qual foi inspirada na reminiscência de seus ancestrais, deveu-se à notícia trágica que chegou até ele quando residia fora do Brasil: “(...) a morte de um familiar, velho contador de histórias orientais durante minha infância”. (HATOUM, 1991, p. 3.).  Episódio que fez Hatoum redefinir as veredas por onde sua literatura, a partir de então, iria trilhar: “Para alguns escritores, o desejo de mediar o mundo pela linguagem escrita nasce de uma ausência, de um certo inconformismo face a realidade”. (Idem, p. 3.). Na peculiaridade de seu ofício de escritor, urdiu o livro, primeiramente, à mão “entre Barcelona, Madri, Paris e Manaus. Depois datilografei e terminei em 1986 ou no começo de 1987”. (SERRÃO, 2017, p. 1). Assim, Relato... foi se delineando em diversas cidades europeias, para ser finalizado em Manaus, quando Milton Hatoum fazia aulas na Universidade Federal do Amazonas. Decerto, foram motivos financeiros que fizeram com que Hatoum retornasse à cidade de Manaus. (LEAL, 2010). Assim, no início dos anos de 1980, torna-se professor da Universidade Federal do Amazonas ministrando aulas na disciplina de Língua e Literatura Francesa.

Apesar de “Relatos...” ter sido um livro premiado não atingiu muitos leitores, ficou mais no plano das academias. Diz Hatoum: “É mais difícil de ser lido; o leitor tem que descobrir a voz do personagem e quem está falando”. (SERRÃO, 2017, p. 1).  Depreende-se dessa perspectiva o valor da narração oral na literatura de Hatoum: “(...), a cultura do Outro estava delineando-se por um outro caminho, talvez o mais fecundo para mim: o da narração oral”. (HATOUM, 2017, p. 1). Ao lado dessas vozes em conversação, o entrelaçamento cultural entre o Oriente e o Amazonas. Aí o literato deixava vazar sua relação afetiva com a cultura árabe-amazonense, marcada por sua ancestralidade, pois se consideradas suas vivências desde a infância, na casa, no ambiente familiar “(...) o pequeno Oriente que me cercava (e do qual emanavam códigos visíveis e invisíveis) foi decisivo”. (Idem). Mas seu desafio mais intricado fora romper com os limites das constantes representações hiperbólicas e exóticas sobre o Oriente e a Amazônia. Para tanto, segundo ele, diversas leituras posteriores lhes “permitiram aprofundar a compreensão de dois mundos complexos e distintos”. (HATOUM, 1991, p. 3). Necessário se fazia romper aquelas representações do Oriente como enigmático e misterioso, pujante na literatura de viagem que determinados escritores como Gerard Nerval reproduziam, por exemplo. Irromper com visões etnocêntricas igualmente, onde “o projeto literário serve ao expansionismo colonial. Por isso, alguns desses textos não estão isentos de distorções, de observações negativas sobre o mundo em que transitam os narradores.” (Idem)
Hatoum, em face da diversidade literária sobre o Oriente, como afirma, degustou aquilo que lhe dera prazer. Foi, portanto a leitura de Viagem ao Oriente, de Nerval e As mil e uma Noites que lhe deu chaves importantes para compreender o valor simbólico dos ecos de uma determinada voz de um narrador, mesmo após a morte (o narrador real e os imaginários). (Idem)

Dentre as leituras com as quais já havia entrado em contato, quando em sua passagem pelas aulas do curso de Teoria Literária da USP, nos anos de 1970, Jorge Luiz Borges foi uma profícua fonte fecunda. O qual influenciaria na elaboração, principalmente, do Relato.. Dizendo de outro modo, o Oriente imaginário de Borges, contribuiu significativamente com as imagens elaboradas por Hatoum. Isso é declarado no texto “Passagem para um certo Oriente” – prefácio elaborado pelo escritor amazonense para o livro Milton Hatoum: entre o Oriente e a Amazônia, de Albert von Brunn publicado no Brasil em 2018, pela editora Humanitas, o escritor amazonense afirma que a literatura hispano-americana lhe fez também conhecer versões imaginárias do Oriente:

“(...), foi exatamente a leitura de algumas obras de Borges que me proporcionou um conhecimento do Oriente. Um Oriente simbólico, presente tanto nos comentários das traduções como em alguns contos do livro El Aleph e em certos textos “híbridos”, em que o leitor não divisa a fronteira entre a ficção e o ensaio. Além disso, um dos tantos prólogos de Borges me despertou o interesse pela prosa narrativa de Marcel Schwob, um escritor francês importante, mas pouco conhecido. Depois de ter traduzido um livro de contos de Schwob ambientado no Oriente percebi que essa tradução fora uma homenagem sincera, ainda que modesta, de um leitor anônimo ao escritor argentino. Com essas pistas de leitura deixadas por Borges, viajei como bolsista para Europa, onde tive a oportunidade de conhecer alguns arabistas espanhóis e franceses, assim como a tradução de várias obras da literatura árabe: os relatos de viagem de Ilbn Batutta, a narrativa lírica e erótica de Ahmed Tifachi e Nafzawi, a mística mulçumana de Ibn Al Farid e outros textos com os quais alguns poetas e romancistas espanhóis vêm mantendo um diálogo fecundo.” (HATOUM, 2018, p.p. 14 e15). 

Matrizes intelectuais, raízes imagéticas germinadas no Brasil, afloradas através de leituras de arabistas conhecidos no velho continente. Depreende-se dessa preposição que Relato... inscreve peculiar relação com a Amazônia: uma representação na qual a cultura e os personagens são elucidados de forma pujante. Refutando, assim, uma tradição literária em que o espaço é privilegiado. Hatoum se desliga da ideia de Amazônia como inferno verde. Por suas palavras, o espaço “é antes objeto de reflexão do que cenário a ser protagonizado”. (HATOUM, 1991, p. 3). Outra marca de Hatoum gira em torno de sua acepção acerca do matiz regionalista na literatura; o que já está posto desde aquele livro de poemas, mencionado linhas acima: para Hatoum narrar sobre a Amazônia não precisou usar o mesmo recurso de alguns escritores regionalistas: “reproduzir a fala cabocla”. (Idem.).

Em suma, de tanto procurar um tema, uma fatalidade diretamente relacionada à perda drástica de um exímio contador de história, figura significativa na vida de Hatoum, fará com que o literato perceba que a trajetória de seus ancestrais, da qual ele fazia parte, era um palimpsesto do qual, através da latente reminiscência, ele deveria recorrer para construir e reconstruir a sua obra literária. Nas curvas das metáforas dessas mil e uma noites, afloradas das lembranças de seus ancestrais, Hatoum encontrou seu estilo.  Muitos anos depois ele deixaria registrado em seu segundo romance que “cedo ou tarde, o tempo e o acaso acabam por alcançar a todos”. (HATOUM, 2000, p. 259). Ficara claro, assim, como o literato menciona em outro depoimento que “a literatura não é apenas entretenimento, não é apenas diversão. É um dos modos de ver o mundo de forma complexa, oblíqua, e não direta. [...]. Literatura exige reflexão [...].” (SERRÃO, 2017, p. 1).

Referências
* Arcângelo da Silva Ferreira é Professor Assistente B na Universidade do Estado do Amazonas. Graduado em História pela UFAM. Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela UFAM. Doutorando em História pela UFPA.
e-mail: asf1969@outlook.com

* Heraldo Márcio Galvão Júnior é Professor Assistente B na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Graduado em História pela Unesp. Mestre em História pela Unesp. Doutorando em História pela UFPA. Bolsista Prodoutoral CAPES.
e-mail: heraldogalvaojr@gmail.com

Fontes
CARPEGGIANI, Schneider. “Relato de um certo oriente, de Milton Hatoum, completa 25 anos”. In.: Suplemento Cultural do Diário do Estado de Pernambuco nº 14 – Outubro 2104. Disponível: www.suplementoculturalpernambuco.com.br. Acesso: 24/09/2017 às 01:02h.
EL GEBALY, T. M. A. “Milton Hatoum: ‘não há tantos tradutores de língua portuguesa’”. In. : Revista Crioula. Maio de 2010 – Nº 7. Disponível em http: // www.revistas.usp.br/crioula. Acessado em 13/10/2017 às 23:29H.
HATOUM, Milton. “Escrever à margem da História” – texto da participação do autor em 4 de novembro de 1993 no seminário de escritores brasileiros e alemãs, realizado no Instituto Goethe, São Paulo, p. 1. Disponível em http/revistas.pucsp.br/index.php/fornteiraz/article/viewFile/12593/9167. Acesso em 14/10/2017 às 04:13H.
Jornal O Estado de São Paulo, 19 de outubro de 1991, nº 584, ano VIII, p. 3. Caderno Cultura; seção Depoimento.
LEAL, Cláudio. Hatoum: a literatura é a arte da paciência – entrevista. Disponível em: terramagazine.terra.com.br. Publicado quarta-feira, 19 de setembro de 2007, 13H51. Acessado em 21/09/2017 às 14:35h.
Ruan de Souza Gabriel. Milton Hatoum: arquiteto do tempo. Disponível em: época.globo.com/cultura/notícia/2017/10/milton-hatoum-o-arquiteto-do-tempo.html. Acesso em 21/10/2017, às 16:03h.
SERRÃO, Cláudia Maria. Milton Hatoum fala sobre o processo de constituição do livro ‘Dois irmãos’ e suas relações editoriais. Disponível em: https:livreopiniao.com. acessado em 15/10/2017 às 09:54h.

Bibliografia
BENJAMIN, Walter. “Sobre o conceito de história” In.: Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas, volume 1. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. Prefácio: Jaenne Marie Gagnebin, 3ª edição – São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano : 1. Artes de fazer; 15 ed. tradução de Ephraim Ferreira Alves. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2008.
HATOUM, Milton. “ Amazonas, capital Manaus”. In.: NUNES, Benedito & Hatoum, Milton. Crônicas de duas cidades: Belém – Manaus. – Belém: Secult, 2006.
HATOUM, Milton. “Amazônia: um ciclo de sono e violência ou Motocu, o demônio, cumpriu sua missão”. In.: ______________ et al. Amazonas: Palavras e imagens de um rio entre ruínas. São Paulo : o Autor; coedição Livraria Diadorim, 1979.
HATOUM, Milton. Dois Irmãos. – São Paulo : Companhia das Letras, 2000.
HATOUM, Milton. Passagem para um certo Oriente. In: BRUNN, Albert von. Milton Hatoum : entre Oriente e Amazônia. Tradução : Rafael Rocca dos Santos.  -São Paulo : Humanistas, 2018.
HATOUM, Milton. Relato de um certo Oriente. – 1ª ed. – São Paulo : Companhia das Letras, 2008.
MATE, Rayes. “O anjo da história ou por que o que para nós é progresso para o anjo é catástrofe”. In.:__________ Meia-noite na história: comentários às teses de Walter Benjamin “sobre o conceito de história”; tradução Nélio Schneider. São Leopoldo, RS : Ed. UNISINOS, 2011.
NETTO, José Paulo. “Em busca da contemporaneidade perdida: a esquerda brasileira pós-1964”. In. MOTA, Carlos Guilherme (organizador). Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000): a grande transição. 3ª ed. – São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2013.
PIZA, Daniel. “Perfil Milton Hatoum”. In.: CRISTO, Maria da Luz Pinheiro de. (org.) Arquitetura da memória: ensaios sobre os romances Dois irmãos, Relato de um certo Oriente e Cinzas do Norte. – Manaus : Editora da Universidade Federal do Amazonas/ Uninorte, 2007.

12 comentários:

  1. Bom dia, Heraldo e Arcângelo.
    Li com atenção o texto de vocês e achei muitíssimo interessante. Gostaria de fazer algumas perguntas:

    1) É possível inferir, a partir da leitura de "Dois irmãos" de Hatoum, que Manaus possui uma significativa comunidade de origem árabe, o que surpreende leitores que não têm conhecimento da história do norte do país (como eu). Vocês poderiam dar uma explicação breve da época e do contexto em que imigrantes árabes começaram a aportar no Amazonas?

    2) Vocês deixaram claro que Hatoum foi muito influenciado pelos escritores hispano-americanos, além de autores árabes mais antigos a partir de traduções encontradas na Europa. Em suas fontes sobre Hatoum, vocês encontraram alguma referência a escritores estadunidenses que atuaram em meados do século XX? Pergunto isso porque a forma narrativa de "Relato de um certo oriente", mesclando várias narrações em primeira pessoa, lembra muito "Sometimes a great notion" (1964), clássico de Ken Kesey sobre uma família de lenhadores no Oregon (cujos protagonistas são dois irmãos rivais).

    3) Vocês acham que as representações da região amazônica que os demais brasileiros têm, de um lugar exótico e longínquo, habitado por um povo também exótico, seriam semelhantes ao que Said denominou "Orientalismo"? Em caso positivo, vocês acham que a obra de Hatoum seria um claro antídoto a esse "orientalismo"?

    4) Eu nunca havia ouvido falar dessa ideia do Amazonas como "inferno verde". Vocês poderiam explicar do que se trata essa representação?

    Muito obrigado pela atenção,
    Felipe Alexandre Silva de Souza

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    Respostas
    1. Boa madrugada!
      Tudo bem, Felipe? Obrigado pela leitura de nosso artigo.
      Tentaremos te responder as perguntas, por sinal, instigantes:
      1. Os árabes chegaram em Manaus no contexto em que a Amazônia está vivenciando a sua primeira fase da extracao do látex. O boom da borracha demandou um processo efêmero de crescimento econômico. A cidade se modificou em seu desenho urbano e arquitetônico. Migrantes (principalmente do Nordeste) e imigrantes ( dentre esses os do Oriente) se estabeleceram em Manaus. Os avós de Hatoum, paternos e maternos vieram pra Amazônia nesse contexto. Tornaram-se comerciantes como a maioria dos libaneses. Esse foi um período denominado pela historiadora Edineia Mascarenhas como "A ilusão do Fausto" - passagem do século XIX ao XX - porque a riqueza foi fugaz.
      2. Nos depoimentos que tivemos contato não há tais indícios dessa confluência da qual você se reporta. Mas, o questionamento é fecundo. Com certeza norteará futuras investigações.
      3.para os dois questionamentos as respostas são sim. Said, inclusive, pode ser considerado uma das matrizes intelectuais de Hatoum. Isso pode ser verificado, principalmente, no livro As representações do intelectuais - se não me falha a memória é esse o título - escrito por Said e traduzido por Hatoum para o português brasileiro. Hatoum foge do exotismo exacerbado e procura elaborar uma literatura universalizante.
      4. "Inferno Verde" é expressão usada pelo escritor Alberto Rangel. A acepção de Amazônia para esse autor é oposta à de Hatoum, posto que Rangel lança mão de um regionalismo onde a natureza acaba "engolindo o homem". Na visão desse literato o personagem é subsumido pelo espaço. A cultura é escondida na pujança da natureza.

      Esperamos ter respondido os seus questionamentos. Forte abraço!

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    2. Boa madrugada!
      Tudo bem, Felipe? Obrigado pela leitura de nosso artigo.
      Tentaremos te responder as perguntas, por sinal, instigantes:
      1. Os árabes chegaram em Manaus no contexto em que a Amazônia está vivenciando a sua primeira fase da extracao do látex. O boom da borracha demandou um processo efêmero de crescimento econômico. A cidade se modificou em seu desenho urbano e arquitetônico. Migrantes (principalmente do Nordeste) e imigrantes ( dentre esses os do Oriente) se estabeleceram em Manaus. Os avós de Hatoum, paternos e maternos vieram pra Amazônia nesse contexto. Tornaram-se comerciantes como a maioria dos libaneses. Esse foi um período denominado pela historiadora Edineia Mascarenhas como "A ilusão do Fausto" - passagem do século XIX ao XX - porque a riqueza foi fugaz.
      2. Nos depoimentos que tivemos contato não há tais indícios dessa confluência da qual você se reporta. Mas, o questionamento é fecundo. Com certeza norteará futuras investigações.
      3.para os dois questionamentos as respostas são sim. Said, inclusive, pode ser considerado uma das matrizes intelectuais de Hatoum. Isso pode ser verificado, principalmente, no livro As representações do intelectuais - se não me falha a memória é esse o título - escrito por Said e traduzido por Hatoum para o português brasileiro. Hatoum foge do exotismo exacerbado e procura elaborar uma literatura universalizante.
      4. "Inferno Verde" é expressão usada pelo escritor Alberto Rangel. A acepção de Amazônia para esse autor é oposta à de Hatoum, posto que Rangel lança mão de um regionalismo onde a natureza acaba "engolindo o homem". Na visão desse literato o personagem é subsumido pelo espaço. A cultura é escondida na pujança da natureza.

      Esperamos ter respondido os seus questionamentos. Forte abraço!

      Arcângelo da Silva Ferreira
      Heraldo Márcio Galvão Júnior

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  2. Muito interessante o artigo. Gostaria que os autores pudessem me explicar a seguinte fala "para Hatoum narrar sobre a Amazônia não precisou usar o recurso de alguns autores regionalistas o uso da fala cablocla"; seria uma crítica indireta à utilização de um falar específico na literatura como algo que restringe a obra como regional?
    Atenciosamente
    Anna Carolina de Abreu Coelho

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    1. Anna, tudo bem
      Boa madrugada!
      Agradecemos a vossa pergunta. Tentaremos responder.
      Sim. Você está correta é de fato uma crítica indireta a uma determinada literatura regionalistas. Aquela que desenha a Amazônia por meio de seu exotismo exacerbado. Hatoum procura fugir dessa acepção.
      Esperamos ter respondido.
      Forte abraço!

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    2. Anna, tudo bem
      Boa madrugada!
      Agradecemos a vossa pergunta. Tentaremos responder.
      Sim. Você está correta é de fato uma crítica indireta a uma determinada literatura regionalistas. Aquela que desenha a Amazônia por meio de seu exotismo exacerbado. Hatoum procura fugir dessa acepção.
      Esperamos ter respondido.
      Forte abraço!

      Arcângelo da Silva Ferreira
      Heraldo Márcio Galvão Júnior

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  3. Caros Professores Arcângelo e Heraldo, saudações cordiais!

    Em primeiro lugar, agradeço pela oportunidade de leitura de um texto que, da cara, evidencia um estilo narrativo particular que reflete a assinatura de seu autor.

    Em segundo lugar, confesso que o texto me remeteu a várias reflexões que indicam formas particulares de narrativas que evidenciam as particularidades dessa Amazônia plural.

    Em terceiro (e enfim a questão), diante das várias dimensões dos processos narrativos mencionados, aquele que evidencia a relação entre TEXTO e CONTEXTO foi a que me pareceu mais presente nesta narrativa. Os indícios acionados em vários trechos indicaram um paralelo entre as diferentes experiências vividas por Hatoum não apenas em seu processo de escrita do trabalho mencionado, mas apontando para a evocação de sua própria trajetória de vida , inclusive, evocando as memórias relacionadas a um certo contador de histórias importante na caminhada do escritor. Além disso, o cotidiano, ou os diferentes cotidianos vivenciados no Brasil, Espanha e França, além do acesso à Literaturas que apesar de distintas se debruçaram sobre o mesmo objeto, quer seja, o Oriente, lhe parecem ter sido fundamentais na escrita de "Relato de um certo Oriente".

    Nesse sentido, seria muito interessante indicar, ainda que de modo breve (devido ao espaço oportunizado), alguns indícios outros que evidenciem um estilo particular em Hatoum na evocação de memórias e trajetórias, do real e do imaginário, presentes em suas outras obras... Desse modo, acredito ser possível tornar mais evidente o estilo particular do autor, defendido neste texto, em comparativo com outros trabalhos amazônicos.

    Por fim, deixo registrado que a passagem "Nas curvas das metáforas dessas mil e uma noites, afloradas das lembranças de seus ancestrais, Hatoum encontrou seu estilo.", me pareceu um brinde à leitura profícua e promissa deste enredo...

    Parabéns pelo texto!

    Fernando Roque Fernandes
    Universidade Federal do Amazonas
    Universidade Federal do Pará

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    1. Prezado Fernando.
      Tudo bem?
      Agradecemos a vossa leitura e a questão sugestiva formulada. Tentaremos responder, portanto.
      Em 2008, Milton Hatoum, por meio da Companhia das Letras, lançou a novela Órfãos do Eldorado. O enredo dessa narrativa está estruturado no processo de degradação de uma família enriquecida por meio do comércio relativo ao boom da borracha na Amazônia. Arminto Cordivil é o personagem narrador: lançando mão de suas lembranças conta a trágica história de três gerações. Em seus depoimentos, Hatoum registra que essa novela tem como mote uma antiga história contada por seu avô, um libanês que há muito veio do Oriente para trabalhar como regatão na Amazônia .Assim como seu avô, que era um viajante, Eldorado é um mito que perpassou muitos lugares e acabou por se localizar na Amazônia. O relato do avô de Hatoum foi gestado a partir de outro relato: aquele colhido da memória de um habitante, provavelmente, residente em Parintins (cidade localizada no Baixo rio Amazonas).Em suma, Órfãos do Eldorado representa uma fonte fecunda a mais para se problematizar sobre a narrativa do referido escritor amazonense. Ora, o estilo de Hatoum, prene dessa "deusa tutelar" da literatura, a memória, se entretece nas lembranças inscritas em imaginários herdeiros de relatos de seus ancestrais, portanto, de memórias orientais/amazônicas, oriundas das experiências reais/imaginárias.
      Esperamos ter alcançado a indagação que foi proposta, caro Fernando.
      Forte abraço!

      Arcângelo da Silva Ferreira
      Heraldo Márcio Galvão Júnior

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  4. Prezado Fernando.
    Tudo bem?
    Agradecemos a vossa leitura e a questão sugestiva formulada. Tentaremos responder, portanto.
    Em 2008, Milton Hatoum, por meio da Companhia das Letras, lançou a novela Órfãos do Eldorado. O enredo dessa narrativa está estruturado no processo de degradação de uma família enriquecida por meio do comércio relativo ao boom da borracha na Amazônia. Arminto Cordivil é o personagem narrador: lançando mão de suas lembranças conta a trágica história de três gerações. Em seus depoimentos, Hatoum registra que essa novela tem como mote uma antiga história contada por seu avô, um libanês que há muito veio do Oriente para trabalhar como regatão na Amazônia .Assim como seu avô, que era um viajante, Eldorado é um mito que perpassou muitos lugares e acabou por se localizar na Amazônia. O relato do avô de Hatoum foi gestado a partir de outro relato: aquele colhido da memória de um habitante, provavelmente, residente em Parintins (cidade localizada no Baixo rio Amazonas).Em suma, Órfãos do Eldorado representa uma fonte fecunda a mais para se problematizar sobre a narrativa do referido escritor amazonense. Ora, o estilo de Hatoum, prene dessa "deusa tutelar" da literatura, a memória, se entretece nas lembranças inscritas em imaginários herdeiros de relatos de seus ancestrais, portanto, de memórias orientais/amazônicas, oriundas das experiências reais/imaginárias.
    Esperamos ter alcançado a indagação que foi proposta, caro Fernando.
    Forte abraço!

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  5. olá, muito boa leitura, me interessa muito questões sobre Memoria, e o quão ela é importante ao individuo, é muito perceptível no texto de Hatoum. gostaria de perguntar aos autores
    Arcângelo & Heraldo, sobre as influencias que Hatoum teve nos diferentes lugares onde escreveu (Barcelona, Paris e terminando em manaus) o que acham, a sua vivencia em três territórios diferentes com vivencias particulares pode ter condicionado na sua escrita? pois sabemos que o lugar, o tempo determinantes em nossas produções etc.
    Allef Mateus Reis de Souza

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    1. Allef, meu caro.
      Tudo bem?
      Em nossas discussões costumamos pensar que as vivências de Hatoum por diversas cidades, desde Manaus, assim como nas europeias, contribuíram para que o literato amazonense consolidasse suas matrizes intelectuais e imagéticas, essencialmente, no que diz respeiro às acepções sobre à Amazônia. Nessa medida, as representações de Amazonônia em Hatoum são relativas aos trabalhos dos orientalistas, mas tambem dos romancistas brasileiros e, por extensão, e essencialmente, dos folcloristas paraenses e amazonenses, sem esquecer de seus contatos com fotógrafos, filósofos e historiadores como, por exemplo, Luiz Braga, Benedito Nunes e Edineia Mascarenhas, respectivamente. Foi, inclusive, o que procuramos desenhar no nosso ensaio, mesmo que indiretamente.
      Esperamos ter respondido as indagações. Fortes abraços.

      Heraldo Márcio Galvão Júnior
      Arcângelo da Silva Ferreira .

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