Felipe Alexandre Silva de Souza

OS SÚDITOS REBELDES DO SULTÃO DE CONSTANTINOPLA: A INSURREIÇÃO GREGA NA QUESTÃO ORIENTAL (1821-1830)

O Império Otomano e a Questão Oriental
No início do século XIX, o evidente declínio do Império Otomano foi visto como uma oportunidade da qual várias forças políticas tentaram tirar vantagem. Internamente, movimentos provinciais tentavam usar o enfraquecimento de Constantinopla para conquistar maior autonomia ou mesmo a total independência. Externamente, as potências europeias buscavam promover seus vários interesses estratégicos e econômicos nos territórios do sultanato. Este breve ensaio pretende discutir a confluência de questões endógenas e exógenas na guerra de independência grega (1821-1830). Focando principalmente nos aspectos políticos e militares, abordaremos a tentativa otomana de esmagar a insurreição em sua província helena e como os países mais poderosos da Europa tentaram manipular os acontecimentos em proveito próprio.

O enfraquecimento otomano foi um fenômeno de longa duração e notável complexidade. Sem pretensões de abordá-lo de forma satisfatória neste espaço, elenquemos alguns elementos que ajudam a compreender uma dimensão desse processo que interessa à discussão proposta: a tendência à descentralização da autoridade. Um dos primeiros sinais claros de enfraquecimento da Sublime Porta de Constantinopla foi o fim da expansão rumo ao ocidente e posterior recuo de suas fronteiras a partir de fins do século XVII, gerando o encolhimento da Rumélia — a porção europeia do Império Otomano, localizada na península balcânica. Para se compreender o peso dessa retração, é necessário ter em mente que o sistema imperial era organizado fundamentalmente em torno da contínua conquista e colonização de novos territórios (CLAYTON, 1971). Portanto, a expansão era fundamental para que se garantisse uma coesão suficiente ao Império, e seu fim acarretou profundas alterações de dinâmica interna (LEWIS, 2010).

Uma das consequências foi a falta de novas terras, o que levou a baixas cumulativas na produção (ANDERSON, 1974). Ademais, a perda de territórios na Europa também se traduzia na redução da arrecadação de impostos (CLAYTON, 1971). O crescimento demográfico foi um elemento agravante: somado à redução da disponibilidade fundiária, acarretou no aumento de camponeses sem terra e na eclosão de conflitos sociais e do banditismo. Desta forma, os sucessivos sultões, providos de recursos cada vez menores, se viam às voltas com o agravamento da instabilidade social. As tentativas de recuperar a arrecadação por intermédio do aumento dos impostos e da intensificação da exploração do trabalho tornavam os conflitos mais intensos, gerando um ciclo vicioso (ANDERSON, 1974).

O governo central, incapaz de administrar satisfatoriamente esses conflitos, encontrava sua autoridade progressivamente desafiada pela crescente autonomia de seus representantes locais, alguns dos quais conseguiram instalar potentados relativamente independentes de Constantinopla. No bojo dessa tendência centrífuga, várias forças políticas sob a Porta procuraram estabelecer alianças com diversos governos e grupos privados europeus, buscando uma correlação de forças favorável para defender seus interesses frente ao sultanato. No início do século XIX a situação chegou a tal ponto que, embora o território imperial oficialmente se alongasse do Iêmen à Argélia, da Bósnia ao Cáucaso e da Eritreia a Basra (abarcando 30 milhões de súditos), Constantinopla mantinha sob controle efetivo apenas as províncias centrais da Anatólia e da Rumélia. O restante de seus domínios exibia uma ampla variedade de padrões administrativos, com governadores locais apoiados exércitos privados e cada vez mais autônomos (HANIOĞLU, 2008).

Os meios políticos europeus acompanhavam de perto a desagregação do Império Otomano. Seu declínio abria diversas possibilidades de vantagens para as principais potências da Europa, tornando-se uma questão delicada. Ingleses, franceses, russos e austríacos tinham interesses colidentes nos domínios da Sublime Porta, e o problema poderia ser resumido, grosso modo, na seguinte questão: seria mais vantajoso o esfacelamento total do Império, estabelecendo-se condições para que todas as potências pudessem avançar na defesa de seus interesses, o que poderia levá-las a custosos e destrutivos choques bélicos; ou seria preferível que a autoridade otomana fosse mantida, para que os europeus continuassem a explorar suas fraquezas, lucrando com menores riscos de conflitos diretos? (CLAYTON, 1971). Esse imbróglio era conhecido na diplomacia da época como “Questão Oriental”.
Segundo Clayton (1971), predominavam nos cálculos das grandes potências os interesses estratégicos de explorar militarmente das rotas marítimas e terrestres através do Mediterrâneo e do Oriente Próximo. Os britânicos almejavam o controle de rotas marítimas mais breves para a Índia colonial, por conta das vantagens militares que isso proporcionava e também para a manutenção do comércio com suas colônias asiáticas, que era vital para a prosperidade do Império Britânico. Enquanto isso, as rotas terrestres na região hoje conhecida como Oriente Médio que eram de interesse especial para a França e a Rússia.

Embora fosse uma potência marítima, interessava à Inglaterra não apenas que as rotas terrestres otomanas fossem controladas por forças amigáveis, mas também evitar que qualquer outro país amealhasse demasiada influência no Império Otomano. Se a França e a Rússia se tornassem efetivos mestres de Constantinopla, sua força enquanto estado europeu poderia crescer além da capacidade britânica de controlá-la. Foi em parte por isso que entre 1798 e 1833 Londres tratou de assegurar o controle naval do Mediterrâneo Oriental, por intermédio principalmente da posse de Malta e das Ilhas Iônicas. O Império Russo em expansão despertava mais receio do que a França, posto que se colocava como a maior ameaça ao equilíbrio de poder europeu. Portanto, negar à Rússia influência sobre Constantinopla e uma passagem segura ao Mediterrâneo pareceu o caminho mais fácil de mante-lo sobre controle (CLAYTON, 1971). A localização estratégica da Grécia continental e insular fez com que a guerra de independência grega acabasse por se relacionar a essas questões estratégicas que preocupavam as potências (STAVRIANOS, 1958).

A Grécia Otomana
A maior parte dos territórios do que hoje é a Grécia moderna foi conquistada alguns anos após a tomada de Constantinopla pelo sultão Mehmet II, o Conquistador (1453): Atenas foi capturada em 1458, e dois anos depois todo o Peloponeso foi ocupado. Segundo Stavrianos (1958), podemos dizer que existiam dois mundos gregos díspares no Império Otomano. Em Constantinopla se baseavam grupos minoritários — as ricas famílias mercantes conhecidas como Fanariotas e o alto prelado da Igreja Ortodoxa — que comandavam a maior parte das atividades comerciais da península balcânica e ocupava alguns dos mais altos postos da administração e da diplomacia otomana. No início do século XIX, esses segmentos gregos eram os mais poderosos entre os povos subjugados por Constantinopla.

Em contraste, havia o mundo camponês da grande maioria que vivia nas províncias gregas to Império, assolada pela pobreza e pelo analfabetismo. Os conquistadores dividiram as terras gregas em dez regiões administrativas (sanjaks). As planícies foram divididas em territórios menores (fiefs, ziamets e liels) e sua posse foi distribuída entre os guerreiros turcos considerados mais valorosos pelos sultões. O que se resultou na prática foi um sistema administrativo notavelmente caótico, o que acabou por permitir que a maioria dos camponeses gregos levasse uma vida cotidiana miserável, mas com pouca influência das autoridades otomanas, contrariando a tendência secular do sultanato à centralização. Stavrianos (1958) pontua que, com exceção de algumas áreas na Trácia e na Macedônia, onde um grande número de turcos se estabeleceu, a população grega normalmente era livre para eleger seus próprios governantes locais. A igreja ortodoxa tinha permissão de funcionar livremente e não pagava impostos pesados. e eles desfrutavam de um grande grau de autonomia em um regime administrativo descentralizado. Algumas cidades gregas, como Yanina, detinham privilégios administrativos especiais, e certas regiões montanhosas nunca chegaram a ser completamente submetidas, e eram deixadas em paz contanto que pagassem alguns tributos gerais.
Foi justamente a deterioração da estrutura imperial otomana que levou à maior opressão sobre os camponeses helenos. As derrotas militares, a corrupção e o desfalque geral levaram inevitavelmente a um crescimento do peso dos impostos nas terras gregas e a métodos mais violentos para arrecadá-los. Enquanto isso, o mundo camponês foi gradualmente transformado cultural e comercialmente pela combinação de forças domésticas e estrangeiras. Uma das consequências das guerras franco-britânicas do século XVIII foi o desmantelamento das operações dos mercadores ocidentais estabelecidos em Salônica, Patras e outros portos gregos. Os nativos aproveitaram essa oportunidade para ingressar no negócio de exportações e importações com os países da Europa Central. (STAVRIANOS, 1958).

A economia grega também foi estimulada pelos tratados Russo-turcos de Kuchuk Kainarkji (1774) e Jassy (1792), que estipulavam que o Mar Negro e os Estreitos deveriam ser abertos aos comércios russo e austríaco, e que os súditos gregos da Porta teriam a permissão para hastear a bandeira russa em seus navios. Isso abriu novos campos para o comércio grego, que encontrou um mercado em expansão nas novas províncias do sul da Rússia, para produtos gregos (frutas, vinho, sabão, azeite de oliva, etc). Os gregos também lucraram fazendo serviços de frete para o comércio russo de trigo. Quando a guerra entre franceses e britânicos os levou a destruir suas respectivas marinhas mercantes no mediterrâneo, os fretistas gregos foram deveras bem sucedidos em aproveitar esse vácuo e aumentaram exponencialmente sua frota naval. Segundo Clogg (1992) e Stavrianos (1958), uma das repercussões do renascimento comercial grego foi a criação de uma nova atmosfera intelectual que facilitou o surgimento das forças políticas que levariam ao levante de 1821. As novas relações comerciais levaram os mercadores e intelectuais gregos a entrar em contato com outros povos e culturas. Essas novas perspectivas tornaram mais difícil conviver em um mundo habitado de oficiais otomanos, prelados ortodoxos e governantes locais. Paulatinamente, o jugo otomano deixou de ser visto como uma força inarredável. Não à toa, os mercadores seriam uma força fundamental na luta contra os otomanos.

Enquanto crescia e começava a se organizar um sentimento nacional grego, avançava também o declínio otomano, ao ponto em que nas décadas imediatamente anteriores ao levante de 1821, o Império havia deixado de funcionar como um estado unitário em um número significativo de aspectos.

“Isso, é claro, foi de um benefício inestimável para os gregos quando as hostilidades foram iniciadas, porque a impotência e a desorganização do governo central os permitiu prolongar a luta até que as Potências foram, relutantemente e contra sua inclinação, forçadas a intervir, assumindo o papel de garantidores da independência grega.” (CLOGG, 1973, p.3).

Contra as potências europeias, o sultão Mahmud II tenta esmagar a insurreição helênica
O movimento de independência foi liderado por uma organização inspirada pelo ideário da Revolução Francesa e conhecida como Philike Hetairia, fundada em 1814, em Odessa, por mercadores gregos. Em 1821, os líderes da Hetairia declararam a independência da Grécia, encorajados pela revolta de Ali Paxá, governador da província da Albânia, contra a autoridade central, e meio a um aumento generalizado de ataques individuais contra funcionários otomanos. As campanhas iniciais foram isoladas e não coordenadas, devido ao pouco treinamento e falta de unidade entre os gregos, e também por conta do terreno montanhoso que dividia o país em compartimentos isolados. Esse fator, de qualquer modo, também foi desvantajoso para as forças otomanas. Durante o primeiro ano, os gregos — perpetrando massacres em larga escala contra turcos não combatentes — ganharam o controle do Peloponeso e de numerosas ilhas no Egeu, inclusive de importantes centros navais, e os otomanos se deram conta de que, justamente pela questão das montanhas, era extremamente difícil planejar uma campanha para a reconquista dessas áreas. A aproximação marítima também estava fora de questão por conta da potente marinha mercante grega, armada com canhões (STAVRIANOS, 1958).

No verão de 1822 os revolucionários haviam estendido seu domínio ao norte do ístmio de Corinto, capturando Missolonghi, Atenas, Tebas e consolidando sua posição no Peloponeso. Todavia, no norte as forças do sultão Mahmut II conseguiram derrotar as insurreições em Tessália, Macedônia e Monte Atos. A situação se prolongou sem grandes avanços até 1825. Os otomanos tinham como apoio um extensivo império e recursos consideráveis, mas não conseguiam aproveitá-los de forma efetiva. Os gregos, por conta de seus parcos recursos e disputas internas, não conseguiam tirar melhores vantagens da fraqueza turca (STAVRIANOS, 1958).

Em 1825, Mahmut II convenceu Muhammad Ali, o governador rebelde do Egito, a mandar soldados para solo grego, com as condições de que seu filho se tornasse governador do Peloponeso reconquistado e que ele mesmo recebesse o governo de Creta. Dezessete mil guerreiros egípcios desembarcaram no Peloponeso e logo conseguiram vantagens, devido à falta de treinamento grega (FAHMY, 2008). Todavia, durante esse período, a insurreição grega era observada com atenção na Europa.

Em 1821, os meios diplomáticos europeus reagiram com certa hostilidade ao movimento grego, visto então como fator complicador em um dilema básico: a degeneração do Império Otomano era evidente, mas nenhum líder das potências europeias podia propor uma solução satisfatória para o que se sucederia após a queda do sultanato. Os otomanos comandavam um império tão vasto e estratégico que a balança de poder europeia seria severamente perturbada se seus domínios fossem tomados por qualquer uma das potências. Mesmo uma eventual partilha do império entre as potências levaria a complicações que poderiam desencadear uma guerra. Por isso, a solução provisória mais razoável seria manter a existência do Império (CLAYTON, 1971).

No entanto, o público europeu aos poucos começava a simpatizar com os gregos, e faziam pressão para que seus respectivos governos apoiassem o movimento. Na Inglaterra, a agitação popular se somou à preocupação do governo de que os russos, seus maiores rivais, enveredassem por uma ação unilateral contra Constantinopla — devido aos laços religiosos com os gregos ortodoxos e às aspirações de controlar as rotas marítimas do Mediterrâneo Oriental. Todavia, em julho de 1827 essas duas potências e a França assinaram um protocolo em Londres determinando que os signatários deveriam oferecer mediação para que o conflito se encerrasse de modo que o Império Otomano não se avariasse irreversivelmente. Caso o sultão rejeitasse a mediação, as potências usariam a força para cessar as hostilidades (CLAYTON, 1971).

Em 1827, quando os militares egípcios tomaram Atenas, receberam com ansiedade a informação de que uma frota combinada de navios britânicos, franceses russos havia chegado à Baía de Navarino, na Grécia. O sultão interpretou o movimento como mera tentativa de intimidação e recusou todas as tentativas europeias de mediação. O paxá egípcio, por sua vez, sabia que partir para um embate com as forças europeias seria ter seu exército destroçado sem a mínima chance de vitória. O Cairo mandou representantes a Constantinopla para tentar convencer o sultão a aceitar negociar a independência grega. Irredutível, Mahmud ordenou que fossem mantidas as operações. Em 20 de outubro de 1827, as forças armadas europeias afundaram e incendiaram a maior parte dos navios otomanos e egípcios em Navarino. Como nem esse golpe demoveu o sultão de manter a Grécia, Mohammad Ali tomou a decisão de se render separadamente (CLAYTON, 1971; FAHMY, 2008).

Navarino foi o ponto de viragem na revolução grega, recebido com entusiasmo pelo público europeu. A partir de então, o debate se deslocou da questão da possibilidade da liberdade grega para se focar em qual deveria ser a extensão dessa inevitável liberdade. Depois de incontáveis discussões diplomáticas, o ajuste dessa questão grega foi resolvido em uma conferência em Londres, concluída com um novo protocolo me fevereiro de 1830. Foi determinado que a Grécia seria transformada em um estado independente e monárquico sob a proteção da França, Inglaterra e Rússia — o escolhido para rei dos helenos acabou sendo o príncipe Oto, da família Wittelsbach, o filho mais jovem do rei da Bavária (KOLIOPOULOS e VEREMIS, 2010).

Todavia, os britânicos evitaram causar demasiados danos ao Império Otomano, restringindo o máximo possível a área do novo estado helênico. Sua fronteira norte foi rebaixada para as alturas do Golfo de Corinto, deixando pouco menos do que o Peloponeso e as Ilhas Ciclades. Os próprios gregos rejeitaram essas determinações do protocolo. Em maio de 1832, termos satisfatórios foram estabelecidos, incluindo a extensão da fronteira ligeiramente para cima da linha Volo-Arta. Em julho de 1832 o sultão reconheceu a independência da Grécia em retorno de uma indenização. No dia 6 de fevereiro de 1833 Oto chegou a Atenas, inaugurando a existência da Grécia como um estado independente governado pela dinastia Bávara (KOLIOPOULOS e VEREMIS, 2010).

A guerra de independência grega foi a primeira grande crise da chamada Questão Oriental. Como procuramos expor, as potências europeias — em especial a Inglaterra e a Rússia —, tentaram manipular a luta de libertação grega para que seus principais objetivos estratégicos fossem atendidos, principalmente o de manter o sultanato em sobrevida para evitar uma custosa guerra intraeuropeia. Depois que o processo grego foi resolvida, os pontos de conflito da questão Oriental se voltaram, ao longo do século XIX e no início do século XX, para as regiões setentrionais dos Bálcãs e para as áreas que hoje conhecemos como Oriente Médio. Os russos tinham como principal objetivo diplomático conquistar o controle dos estreitos entre a Europa e a Ásia Menor, que condicionavam seu acesso ao Mediterrâneo. Tratava-se de uma questão diplomática, militar e cada vez mais econômica, posto que essas rotas eram necessárias para as exportações de cereais ucranianos. A Grã-Bretanha, por sua vez, tinha como prioridade impedir as tentativas russas de aproximação da Índia (HOBSBAWM, 2007). Por isso, sua política era escorar o Império Otomano contra a expansão russa, ou seja, utilizá-la como um estado tampão enfraquecido entre os impérios Britânico e Russo. Todavia, independentemente das maquinações de Londres, São Petersburgo e Paris, a Sublime Porta de Constantinopla finalmente conheceria sua derrocada nos momentos finais da Primeira Guerra Mundial.

Referências
Felipe Alexandre Silva de Souza é doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
E-mail: felipedesouza1988@gmail.com

ANDERSON, P. Lineages of the absolutist state. London: New Left Books, 1974.
CLAYTON, G. D. Britain and the eastern question: Missolonghi to Gallipoli. London: University of London Press, 1971.
CLOGG, R. A concise history of Greece. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
CLOGG, R. Aspects of the movement for greek independence. In CLOGG R. (org.): The struggle for greek independence. New York: Palgrave Macmillian, 1973, p.1-41.
FAHMY, K. The era of Muhammad ‘Ali Pasha, 1805-1848. In: DALY, M. W. (org.): The Cambridge history of Egypt, volume 2: from 1517 to the end of the Twentieth Century. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, p.139-179.
HANIOĞLU, M. S. A brief history of the late Ottoman Empire. Princenton: Princenton University Press, 2008.
HOBSBAWM, E. A era das revoluções 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
KOLIOPOULOS, J., VEREMIS, T. Modern Greece: a history since 1821. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.
LEWIS, B. A descoberta da Europa pelo Islã. São Paulo: Perspectiva, 2010.
STAVRIANOS, L. S. The Balkans since 1453. New York: Reinhart & Company, 1958.

6 comentários:

  1. oi, apreciei muito o seu artigo. Você escreveu que Yanina e algumas outras cidades na Grécia possuíam "privilégios administrativos especiais". Quais eram essas outras cidades? qual o motivo delas receberem tais privilégios? além disso,que benesses eram essas? parabéns pelo trabalho. Raul Fagundes Cocentino.

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    1. Boa tarde, Raul, obrigado pela pergunta!
      No período tratado no texto, as formas administrativas do Império Otomano eram bastante heterogêneas, então os graus, motivos e natureza da autonomia eram bastante variados.
      Segundo Lev Stavrianos, as autoridades otomanas geralmente concediam privilégios especials para grupos, vilas, cidades e distritos que -- na visão dessas autoridades -- contribuíam de maneira destacada para o bem estar e a segurança do Império -- e isso podia acontecer em todas as partes do Império, não apenas na província grega.
      Mineiros, cultivadores de arroz, operadores de barcos,guardas de montanha, entre outros, recebiam isenção total ou desconto no pagamento de impostos.
      Já as cidades se livraram das taxas por produzir alguma mercadoria considerada valiosa e enviar parte dessa mercadoria para Constantinopla. Outras cidades, além da isenção de impostos, adquiriam direito ao autogoverno (Constantinopla não imporia governadores nem faria intervenções em assuntos internos), em troca de enviar regularmente soldados e outros equipamentos para as forças armadas. Além disso, a Igreja Ortodoxa no geral tinha grande liberdade de culto (em troca do pagamento de algumas taxas). Essa liberdade era muito apreciada por um povo profundamente religioso como o grego.
      No caso de Yanina, quando essa cidade foi conquistada, seus moradores conseguiram negociar a garantia de alguma autonomia administrativa (falta de ingerência central), e essa autonomia relativa foi acatada pelos otomanos desde então. Outras cidades que tinham autonomia administrativa, por exemplo, eram Atenas e Rodes, por serem consideradas apanágios, ou seja, posses concedidas pelo sultanato a certos membros da família real otomana, e não do estado otomano em si -- e, consequentemente, isentos de seguir a maioria das regras.
      Além disso, muitas regiões desfrutavam de certa autonomia pelo fato de possuírem geografia montanhosa, tornando-se muito difícil a entrada de forças otomanas para realmente garantir o cumprimento de qualquer lei central.

      Creio que o exemplo mais emblemático dessa questão da autonomia não é a Grécia, mas sim o Egito. Desde o século XVI uma província otomana, o Egito paulatinamente conquistou uma contraditória autonomia (limitar a ingerência de Constantinopla sobre o Cairo, mas não se desligar totalmente do sultanato) durante o século XIX, por obra da dinastia de governadores egípcios iniciada por Muhammad Ali.
      Espero ter respondido de forma mais ou menos satisfatória à sua pergunta. Se tiver interesse, entre em contato comigo por e-mail para que eu te envie um estudo geral sobre esses temas.
      Grande abraço!
      felipe

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  2. Excelente texto Professor Felipe,
    A maior parte do século XIX foi marcado pelo constante clima de rivalidade e suspeitas entre Império Russo e Império Britânico, no que ficou conhecido como o 'Grande Jogo', a fragmentação do Império Otomano, o 'velho doente da Europa', criou oportunidades de expansão para as potências europeias expandirem seus territórios e influência,os britânicos na Ásia Meridional e os os russos sobre a Ásia Central.O jogo de poder durante a Guerra de Independência Grega é um dos momentos do auge dessa rivalidade,onde Britânicos buscavam conservar o status quo transformando os cacos do Império Otomano num estado tampão, entre as ambições expansionistas russas e a sua 'joia da coroa' indiana, a exemplo do que fora feito no Afeganistão.Esse sistema de rivalidade no entanto cessaria com a Convenção Anglo-Russa de 1907(um dos acordos base para a formação da Tríplice Entente na I Guerra Mundial), o que explica essa mudança? Para os britânicos o temor gerado pela emergência do Império Alemão, e para Russos, um revanchismo pela derrota na Guerra Russo-Japonesa?

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    1. Boa tarde, Pamella, obrigado pela pergunta!
      Concordo com você, creio que a emergência e rápida industrialização da Alemanha a partir de 1870 fez com que os britânicos alterassem sua estratégia. É necessário lembrar também que a força do Império Britânico, em termos relativos, estava em declínio, especialmente por conta não só da emergência germânica, mas também do rápido crescimento dos EUA.
      Como, no plano europeu, os alemães passaram a ser a maior ameaça aos britânicos, e como os russos também não estavam confortáveis com um império alemão que poderia começar a se expandir rumo ao leste, uma suspensão das hostilidades Londres-São Petersburgo deve ter sido o mais sensato.
      Isso não mudou apenas em relação à Rússia, mas também em relação à França, antigo rival inglês, especialmente em questões coloniais (basta constatar que ingleses e franceses quase entraram em guerra por conta de um incidente em Fashoda-Sudão em 1898). a chegada de Berlim como um "major player" também pode ter influenciado uma aproximação Londres-Berlim. Hobsbawm, em "A era dos impérios", diz que no final do século XIX seria muito mais pertinente apostar em uma guerra total entre França e a Inglaterra, e que vaticinar que esses dois países fossem aliados seria motivo de risos.
      Portanto, creio que a questão alemã é muito importante para explicar esse rearranjo geopolítico europeu.
      Quanto à questão da guerra russo-japonesa, infelizmente não tenho conhecimento para comentar. Mas tomemos como base o livro mais recente do professor Daniel Aarão Reis (A revolução que mudou o mundo). Nessa obra, ele diz que o resultado da derrota não apenas firmou o Japão como potência em ascensão como também piorou muitíssimo o caos político social em que se encontrava a Rússia -- sendo inclusive um dos principais estopins da Revolução de 1905. Se um evento agravou de tal modo a organização interna do país, e mostrou que a situação geopolítica em suas fronteiras orientais havia mudado, creio que faz muito sentido que os czares tivessem passado sua política externa por uma revisão.
      Obrigado e um grande abraço!
      Felipe

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  3. Belo trabalho. Com relação a cidade de Constantinopla, ela fazia parte dos planos de criação do Reino Grego? E hoje ainda existe alguma pretensão a posse dela? Grato, Marlon Barcelos Ferreira

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    1. Boa noite, Marlon, obrigado pela pergunta, seu questionamento é bastante complexo.

      Quando a Grécia surgiu como estado nacional moderno, não apenas suas fronteiras reais se mostraram muito reduzidas em relação ao almejado pelas lideranças do movimento de independência, como cerca de dois terços dos gregos ficou de fora do novo país (habitando em especial a Ásia Menor, atual República Turca).

      A partir daí, foi tomando força, na Grécia, um movimento político chamado Megali Idea ("Grande Ideia"), caracterizado principalmente pelo irredentismo, ou seja: a aspiração por completar a unidade territorial nacional por intermédio da anexação de terras em domínio estrangeiro.

      Essa ideia, já existente durante a luta pela independência, tomou força ao longo do século XIX, podendo ser considerada um dos princípios norteadores da vida política grega. A proposta concreta era constituir um novo império helênico que abarcasse todo o Mar Egeu.

      No sudeste europeu, os gregos foram o primeiro povo que encontrou sua vitalidade nacional despertada pela construção da memória de um grande passado e de uma grande cultura. Embora houvesse divergências entre os partidários da Megali Idea quanto ao objetivo mais importante — a consolidação agressiva de um estado-nação expansionista ou a preservação e fortalecimento da tradição cultural helênica —, no final do século XIX, pode-se dizer que havia consenso de que a conquista e anexação de Constantinopla à Grécia era o objetivo principal da Megali Idea.

      Quando o Império Otomano foi destruído na Primeira Guerra Mundial, a Grécia, então sob o primeiro ministro Eleftherios Venizielos, aproveitou a oportunidade e, com apoio inglês, enviou soldados à Ásia Menor (Anatólia) em 1919, com o intuito de ocupá-la e incorporá-la ao estado grego. Todavia, estava nos planos de Venizielos e seus compatriotas também a anexação de Constantinopla – algo que as potências vencedoras da Primeira Guerra não estavam dispostas a permitir, o que prejudicou muito a obtenção de auxílio ocidental aos gregos irredentistas.

      Enquanto isso, a invasão grega foi um catalizador da revolta liderada por Mustafá Kemal Ataturk: o nacionalismo grego instigou e se chocou com o nacionalismo turco. Em 1922 os gregos finalmente reconheceram a derrota e a moderna Turquia republicana começou a se consolidar. O conflito de 1919-1922 é conhecido como Guerra Turco-Russa, Guerra de Independência Turca (para os turcos), e, para os gregos, como Catástrofe da Ásia Menor ou Grande Catástrofe.

      Depois de 1922, a Megali Idea e as intensões de anexar Constantinopla foram largamente abandonadas no cenário grego político – que começava a se centrar em outros conflitos, tais como o cisma entre republicanos e monarquistas e o advento de um movimento comunista.

      Durante sua ditadura de 1936-1941, o coronel Ioannis Metaxás chegou a utilizar a retórica de uma “Terceira Civilização Helena” (após a Grécia Clássica e o chamado Império Bizantino), mas não foram tomados passos práticos.
      Certamente cometi alguns erros factuais e omiti detalhes importantes, mas, grosso modo, essa foi a questão da anexação de Constantinopla. Caso tenha mais alguma dúvida, não hesite em entrar em contato.
      Grande abraço,
      Felipe

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