Gustavo Afonso Bennato Teodosio

A CONSTRUÇÃO DA HETEROGENEIDADE DO “MUNDO MUÇULMANO”

Neste seguinte ensaio pretende-se examinar as origens do “cisma do Islã” e suas consequências na formação heterogênica dos califados muçulmanos na região do “Grande Oriente Médio” (Norte da África e Ásia Central), entre os séculos VI ao XI d.C, de forma a esclarecer a gênese das divergências doutrinárias que permeiam as regiões de maioria islâmica no globo.Compreender o Islã e o cosmos do “mundo muçulmano” é entender um estilo de vida, da qual se perduram imutáveis certas diretrizes e valores estipuladas pelo Profeta desta religião. Portanto, analisar os aspectos iniciais desta religião poderiam elucidar o processo pelo qual se configurou uma heterogeneidade da comunidade muçulmana.

A formação dos valores islâmicos na “comunidade de fiéis”
De acordo com ELIADE (1984), em meados do século VI, nasceu em uma pequena aldeia na região Ocidental da Península Arábica, Abū al-Qāsim Muḥammad ibn ʿAbd Allāh ibn ʿAbd al-Muṭṭalib ibn Hāshim, ou comumente conhecido no Ocidente como“Maomé”. Este, em sua maioridade havia proclamado Allah como sendo o único Deus e, por ordem d’Ele, apregoou a verdadeira fé, o “Islã”, que significa “submissão”.Entretanto, Maomé não pretendia criar uma nova religião e sim convencer seus concidadãos de Meca (Santuário) a venerar apenas Allah, em detrimento das diversas crenças tribais que existiam na época pré-islâmica. Contudo, a violenta oposição coraixita – tribo influente de Meca e guardiã do templo da Kaaba – forçou Maomé a se voltar para os habitantes da cidade-oásis de Yathrib, (futura Medina), local no qual a religião não estava relacionada aos interesses locais, além de que, algumas tribos de lá já haviam abraçado o Islã.

Em 16 de julho de 622, segundo HOURANI (1994), Maomé, junto de seus fiéis e familiares abandonaram a cidade sagrada de Meca, e fugiram em direção a “Yathrib”. Esse processo ficou conhecido como “Emigração” ou “Hégira”(Retiro), e assinalou o início de uma“Nova Era” aos muçulmanos. Em Medina, Maomé estabeleceu entre seus seguidores um “Haram” (trégua religiosa)preservando a paz entre os habitante da cidade e criando aos poucos, como afirma TESSORE (2007), um verdadeiro “Estado Islâmico”.

Diferente dos dois monoteísmos anteriores (judaísmo e o cristianismo), conforme afirma ELIADE (1984), por intermédio do Profeta de Allah, foi revelada uma religião mais simples no qual não se constituiu Igreja, muito menos um sacerdócio e seu culto poderia ser efetuado em praticamente qualquer lugar. A vida religiosa dos fiéis seria regulada por preceitos simples como os cinco “Pilares da Fé”, que são compostos pela“Shalât”, as cinco prostrações diárias – é o pilar mais importante; o “Zakât” ou doação monetária à comunidade de fiéis; “Sawn”que é o jejum durante o dia em todo o período do mês do “Râmâdan”; o “Hajj” que seriam a peregrinação obrigatória à Meca; e por fim, mas não menos importante a “Shahâdat”, que é a “profissão da fé” ou a afirmação de Allah como sendo o único Deus e de Maomé como seu derradeiro mensageiro.

“Maomé mostrou a inanidade religiosa das relações tribais. Reintegrou, entretanto, os indivíduos numa comunidade, de natureza religiosa, a ummah. Criou portanto a nação árabe, permitindo embora a expansão muçulmana ampliar a comunidade dos crentes para além das fronteiras étnicas e raciais. A energia que sempre fora despendida nas guerras intertribais foi canalizada para as guerras externas contra os pagãos, guerras empreendidas em nome de Alá e pelo triunfo completo do monoteísmo.” (ELIADE, 1984, p.99)

Foi mediante a essas diretrizes e valores que Maomé reuniu as belicosas tribos da Península Arábica, em uma comunidade de plena natureza religiosa, a “Ummah”. O Profeta de Allah mostrou claramente uma excepcional inteligência política ao unir os muçulmanos vindos de Meca (Emigrados), com os recém-convertidos de Medina (Auxiliares), em uma organização social que, segundo SCHILLING (2003), deveria superar os antigos códigos clânicos e tribais. “Sua religião, completada por novas revelações, impõe aos crentes, aos muçulmanos (fiéis), uma ordem social rigorosa. O Islã é a submissão da lei divina, a um só Deus [...]” (HEERS, 1974, p. 292).

Neste período, Maomé, por meio da fé Islâmica, centralizou as tribos árabes em sua doutrina e manteve consigo todo o contingente tribal que se havia na Arábia, e também fora dela, pois a fé estava se expandido para dentro das fronteiras dos antigos impérios Bizantino e Sassanida.(HOURANI, 1994)

Após a morte de Maomé, em 632, foi inevitável que houvesse um desequilíbrio na ordem estabelecida, pois, apenas seu legado foi deixado, legado esse, sujeito a interpretações e corrupções. Para essa comunidade de fiéis, que se mantinha unida em torno de um “líder”, não havendo um sucessor definido seria difícil manter a unidade e integridade da fé aos moldes de Profeta.

Sem sucessor para exercer a liderança dos muçulmanos, na própria comunidade foram considerados os familiares e próximos do Profeta como possíveis líderes. Segundo HEERS (1974), os primeiros quatros “Califas” (Líder espiritual) do Islã foram tanto membros familiares do Profeta, quanto pessoas de importância para o momento,entre eles estavam Abû-Bakr(sogro), “Umar, ‘Uthman”, e por fim ‘Ali (primo e genro). “Os quatro primeiros califas [...], são considerados pela maioria dos muçulmanos como os Rashidun, ou ‘Corretamente Guiados’” (HOURANI, 1994, p.44).

Porém, de acordo com SCHILLING (2003), com relação a esse período posterior ao Profeta, um historiador muçulmano do século XIV chamado Abd al-Rahman ibn Khaldun, sintetizou de forma clara e objetiva as relações política entre os diversos califados que formaram no “mundo muçulmano”, afirmamos que as dinastias islâmicas sofriam de “inconstância cíclica”, haja vista que, uma dinastia muçulmana ao se tornar estável, formaria grandes cidades populosas, com estilos de vida luxuosos. Contudo, toda dinastia trazia consigo a semente de seu declínio, sucumbindo na tirania, e nas extravagancias supérfluas e aos poucos seu poder se fragmentaria, sendo substituído por outro governo. (HOURANI, 1994)

Mesmo tendo escrito isso anos à frente das formações dos califados maometanos que serão analisados, Ibn Kaldun – como ficou conhecido –, trouxe afirmações que são válidas para o entendimento das daqueles governos que se formariam no Oriente, mostrando assim sua inevitável desordem. Assim sendo, entender as aplicabilidades da afirmativa do Historiador muçulmano, é necessário que se entenda também o processo que levou ao cisma religioso dento da doutrina Islâmica.

O “cisma do islã” e a heterogeneidade da Ummah
As incongruências do processo de emigração das tribos arábicas islamizadas, dariam sinais de uma notável divergência administrativa, que trouxeram consequências para a unidade do Islã, segundo ELIADE (1984), antes mesmo do sepultamento de Maomé, foi escolhido Abû-Bakr como novo califa, tanto por seu parentesco com o Profeta, como por ser um grande chefe militar das campanhas de expansão, pretendendo assim manter a unidade da Ummah., Sabendo da preferência do Profeta por ‘Ali, existia a certeza de que ele assumiria o califado logo após a morte de Abû-Bakr.Porém, ignorando ‘Alí, antes de morrer, Abû-Bakr nomeou um de seus generais, Umar Ibn ‘Abd al-Khattab (634-44), como seu sucessor.

Após a morte de Umar, ‘Ali e seus seguidores (os shî’at‘Ali, Shî’ah ou xiitas) foram novamente ignorados na linha de sucessão, onde foi escolhido como próximo califa ‘Uthman Ibn ‘Affan”, membro do clã Omíadas e antigos adversários de Maomé.Porém em 656, ‘Uthman foi assassinado por revoltosos do Egito e do Iraque, mostrando que as diretrizes da Ummah instaurada por Profetas começavam a não ser mais respeitadas, dando início a um período de guerras civis na comunidade de fiéis.(ELIADE, 1984)

Mesmo sofrendo duras oposições vindas de Mu’âwiya, parente de ‘Uthman, conforme HOURANI (1994), ‘Ali conseguiu instaurar um breve califado, contudo, após a“Batalha de Siffin” (657),ele foi forçado a uma dura trégua, eem razão dessa decisão,foi abandonado por alguns de seus seguidores militantes, os khârijitas (secessionistas).Com suas forças reduzida, em 661,‘Ali fora assassinado junto de alguns partidários. A ascensão de Mu’âwiya ao poder marca o fim de uma fase e início de outra, com a criação da primeira dinastia atrelada ao Califa, a “Dinastia Omíada” (660-750).

“[...] proclamado o califado em 660, toma Damasco para capital. [...] Os califas omíadas, homens de guerra, duros políticos ou artistas amantes do luxo, rompem decididamente com as tradições dos primeiros sucessores de Maomé. [...]inspiraram-se em princípios e práticas do Império Bizantino.” (HEERS, 1974, p. 294)

Com a morte do segundo filho de ‘Ali, Husayn, juntamente com a de seus familiares, em 680, serviu como estopim para insuflar revoltas xiitas pelo novo califado, e a última oportunidade de reunificar a Ummah se perdeu. (ELIADE, 1984)

“[...] Destarte, 30 anos após a morte do Profeta, a ummah encontrava-se dividida – situação em que se manteve até hoje – em três partidos: a maioria dos crentes, os sunitas, ou seja, os partidários da sunna (a “prática”, a “tradição”), sob a direção do califa reinante; os xiitas, fiéis à descendência do “verdadeiro califa, ‘Ali; os khârijitas (“secessionistas”), que consideravam que só a comunidade tinha o direito de eleger o seu chefe, e também o dever de depô-lo se incorresse em pecados graves. [...]” (ELIADE, 1984, p.104)

Desta forma, de acordo com HOURANI (1994), nas primeiras décadas do século VIII, os governantes Omíadas enfrentaram duras revoltas, tanto administravas, por conta da vasta extensão territorial do califado em expansão e por sua heterogenia, quanto por movimentos oposicionistas. Esses fatores, unidos ao fato de que os objetivos da “guerra santa”, definidos pelo Profeta, foram subvertidos, pois os exércitos árabes preferiam submeter os infiéis sem conversão, apenas para obterem tributos, trouxeram a decadência da Dinastia Omíada. (ELIADE, 1984)

Em 740, uma nova guerra civil assolava o califado, motivada pela disseminação do xiismo, nas eminências do califado, mas sem uma organização efetiva. Uma liderança vinda de outro ramo da família do Profeta — de seu tio ‘Ababas —, alegava ter obtido o direito à sucessão do califado. Aliado a representantes locais iranianos formaram uma coalizão, e da região de Curasão (Norte do Irã) marcharam para oeste e derrotando os exércitos Omíadas.

Abu’I ‘Abbas, comandante da coalizão, e seus sucessores, os Abássidas, como seriam conhecidos, segundo HEERS (1974), proclamaram sua descendência direta de Maomé, algo que legitimaria seu governo, e aderiam o título de Califas e “Iman” (Guia espiritual). Posteriormente realocaram a capital do califado de Damasco para Bagdá, uma cidade recém construída e que portanto estava livre dos vícios de elite locais, como eram o caso das cidades já existentes (HOURANI, 1994). Apesar do auxílio dos xiitas para a vitória, os Abássidas, também sufocariam esse movimento durante sua administração, não modificando a situação do xiismo. (ELIADE, 1984)

Conforme reitera ELIADE (1984), da mesma forma que os Omiadas, os Abássidas também passaram por uma assimilação da cultural local, e as características Islâmicas adotaram aspectos urbanos e burocráticos de origem persa. Os califas se confinaram nos palácios, em meio aos luxos e se mostravam ao público somente em dias importantes, bem trajados e envoltos em grande pompa. (HEERS, 1974)

“[...]Os califas, senhores absolutos por determinação de Deus, confiam, entretanto, o controle dos inumeráveis setores do governo – os diwan – a um único personagem, logo todo-poderoso: o vizir cuja função lembra as de um grande oficial sassânida, que controla tudo, administra as províncias, supervisiona o correio e a guarda, deixando ao califa somente o comando do exército[...].” (HEERS, 1974, p. 298)

No entanto, de acordo com HOURANI (1994), a fim de manter a administração das províncias distantes do califado, foi cedido aos governantes locais o poder de coletar impostos dessas províncias, para a manutenção do poder local, isso não impediu que esses governantes fortalecessem suas próprias forças em prol de seus interesses, como é o caso de algumas províncias no norte da África, que aderiam a certas heresias e se tornaram independente de Bagdá. (HEERS, 1974)

Já em meados no século IX, afirma HOURANI (1994), a necessidade de se manter um exército regular, fez com que fossem recrutados soldados turcos, das tribos da Ásia Central, deste modo,estes não tinham nenhuma ligação com os governos, apenas tinham uma relação de clientela com o califa. Entretanto, como mostra HEERS (1974), a situação entre a população de Bagdá e as milícias turcas não foi boa, levando a realocação da sede do califado para ao norte, em Samarra, trazendo um alívio momentâneo a situação, mas, deixou o califa a mercê dos chefes militares turcos, que não demoram a tomar o controlee formarem seus próprios governos nas regiões centrais califado.

Além desta desordem no centro de poder do califado Abássida, também nas zonas periféricas, houveram grandes adesões ao movimento separatista. Como mostra HEERS (1974), alguns berberes do “Magreb” (África Setentrional), adotaram as “heresias” xiitas Kharidjitas e Ibaditas, como também, unidos a um possível descendente de ‘Ali e Fátima (filha do Profeta), que se dizia ser o “iman oculto” – o mahdî –, invadiram a província independente de Kairuan, em 908. Seus governantes posteriores foram chamados de Fatímidas, pois firmaram seu califado na descendência de Fátima, e em 969, esse exército berbere, conduzido pelo califa de Kairuan, ocupou o Egito, sem muita resistência e instaurou um novo império muçulmano que se estendeu do centro do Magreb às terras Sírias.

As características do governo da Dinastia Fatímiada, como acrescenta HOURANI (1994), seguia as mesmas linhas estabelecidas pelo Califado de Bagdá, pois concentrava certos poderes na mão do califa, e seu poder era manifestado em magnificas cerimônias palacianas, e em desfiles solenes ao som de trombetas.

Contudo, no leste, já no início do século XI, surgiu um movimento parecido com o do Islã em seus primórdios. Segundo HEERS (1974), uma poderosa confederação de tribo turca, chamadas “Seldjúcidas”, convertidos a pouco tempo por missionários sunitas vindos de Bagdá, se lançaram em campanhas contra os reinos da Ásia, em nome da “guerra santa”. É justificável o engajamento dessas tribos, pois, estavam inspirados sobretudo por sua recente conversão, e para com a manutenção da fé islâmica, iam contra o mal dos infiéis e dos hereges xiitas que era visto por todo mundo muçulmano como um germe da divisão do Islã.

Entre os séculos XI e XII, toda a área oriental foi dominada pelos Seldjúcidas, que se estabeleceram como governantes em Bagdá, em 1055, dominando também o Irã, o Iraque, boa parte da Síria, e parte da Anatólia Bizantina (HOURANI,1994). Como acrescenta HEERS (1974), essas incursões turcas diminuíram o poder do Califa de Bagdá, limitando-o apenas a sua capital.

As lideranças turcas, não se denominavam Califas, e sim “Sultão”, que significa “detentor de poder”. Estes sultões Seldjúcidas se engajaram fortemente nas guerras santas – como a tomada da “Cidade Santa”, Jerusalém em 1070 –, pois sua ortodoxia foi auxiliada por mestres “Sufis”, e como mostra HEERS (1974), isto justificaria em certo ponto o fervor religioso para o empenho na “guerra santa”, haja vista que estes místicos e teólogos do Islã, tinham uma visão mais ascética com relação a ligação dos fiéis com Allah, e unido aos valores islâmicos já supracitado, se materializariam em um processo de “Jihad” (esforço ou empenho) como “qital” (combate).

Considerações Finais
O cisma do Islã está envolto mais por consequências institucionais e administrativas do que religiosas, pois Meca e Medina não perderam sua importância, ainda sendo os principais polos para os muçulmanos. Mas comparando às regiões da Síria e o Iraque, consequentemente, tornaram-se mais relevantes no que tange a emanação do poder político dos califados.Logo, pode-se notar que, antes das invasões europeias, iniciadas no século XI, os diferentes governos muçulmanos tinham por sua orientação religiosa pelo menos um dos aspectos derivados do cisma; os Fatímidas seguiram a visão khârijita; já o que restou do Califado Abássida, se manteve entre uma maioria sunita e uma minoria de movimentos levantinos xiita; e por fim, os sultões turcos foram estritamente sunitas ortodoxos.

Apesar da consciência islâmica dos valores e fundamentos, existentes dentro dos três partidos, devido ao processo de esfacelamento da Ummah e da Haram proclamada pelo Profeta, não existiu uma homogeneidade política nos governos muçulmanos do Grande Oriente Médio, antes as invasões “cruzadisticas”, como mostra MORRISSON (2013), ao mostrar que os governos Fatímidas eram totalmente complacentes com a passagem de peregrinos cristãos por seus territórios, além de manterem certas relações de comércio com cidades italianas, até por conta de sua proximidade geográfica, mas não apenas isso, como também ao mesmo tempo em que ocorria as incursões cristãs ao Oriente, exércitos Fatímiadas conquistaram por conta própria Jerusalém dos turcos, antes mesmo dos cristão, em um movimento dispare ao da primeira Cruzada.

Sendo assim, independente da identidade religiosa estabelecida pelo Profeta do Islã,as influências e interesses de cada governante e governo que surgiram no Grande Oriente Médio, ou até mesmo fora dele, interferiram significativamente na manutenção da Ummah, criando uma heterogeneidade no mundo muçulmano, que se perdurou até o mento.

Referencias
Gustavo Afonso Bennato Teodosio é graduado em História e Pós-Graduando em Estudos Filosóficos pela instituição Faculdades Integradas Regionais de Avaré.
E-mail: gustavo.bennato@live.com

ELIADE, M. História das crenças e das ideias religiosas: De Maomé à Idade das Reformas. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
HEERS, J. História medieval. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1974.
HOURANI, A. Uma história dos povos árabes. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
MORRISSON, C. Cruzadas. Porto Alegre: L&PM, 2003.
SCHILLING, V. Ocidente x Islã: uma história do conflito milenar entre dois mundos. Porto Alegre: L&PM, 2003.
TESSORE, D. A mística da guerra: espiritualidade das armas no cristianismo e no islã. São Paulo: Nova Alexandria, 2007.


14 comentários:

  1. Qual é o papel dos sufistas dentro do Islã? Qual o partido (seita) que eles estão associados?
    RICARDO PEREIRA PINTO

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá, Ricardo, o papel dos sufistas ou do sufismo, atualmente está muito ligado ao misticismo, esoterismo e ao ascetismo, isto por que, segundo Goffman e Joy no livro “Contracultura Através dos Tempos”, o sufis visavam deixar de lado sua individualidade ou “ego” na busca pela união com o “Um”, Deus, ou “O Amado”. Para isto, eles utilizavam de vareados meios como a danças ritualística, as orações, a contemplações, e até mesmo de práticas que hoje, no contexto ocidental, seriam vistas como ilícitas. Contudo, esta visão é estereotipada e orientalista, haja vista que, muitas ordens sufis estiveram e estão ligadas com a alta sociedade dos governos muçulmanos no Grande Oriente Médio, assim como na liderança de movimentos jihad, como é o caso do recorte histórico do meu ensaio. Onde, algumas ordens sufis ligadas ao Califado de Bagdá, orientaram e converteram lideranças turcas ao islã sunita, através das madrastas, na região da Ásia Central. Isto explicaria a conversão daqueles na ortodoxia islâmica, assim como seus vigorosos empenhos nos processos de jihad como combate físico aos hereges xiitas e infiéis.
      Com relação ao partido, após o cisma do islã, houveram momentos em que os sufis transitaram entre os governos sunitas e os governos xiitas. Contudo, segundo os autores supracitados, algumas ordens sufis traçam sua origem até ‘Ali, (fundador do que viria a ser o xiismo) pois, o “profeta Maomé havia ensinado o misticismo a ele, que por sua vez havia transmitido as técnicas a outros muçulmanos antes de morre”.
      Espero ter respondido sua pergunta.

      Atenciosamente

      Gustavo Afonso Bennato Teodosio.

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    3. Parabéns, Gustavo. Muito enriquecedor seu texto.
      RICARDO PEREIRA PINTO

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  2. Um trecho do texto afirmava que, o Islã 30 anos após a morte do profeta foram criados três partidos, os sunitas, os xiitas e os khârijitas, e afirma que essa situação ainda se mantem. Gostaria de saber há ainda khârijitas, pois vemos geralmente informações sobre os sunitas e o xiitas e não sobre os khârijitas.
    Gostaria de saber também, se essa heterogeneidade trás alguma beneficie aos islâmicos atualmente.

    LUCAS DE LIMA FURINI

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    1. Desde seu surgimento, em meio ao contexto dos conflitos de sucessão da liderança dos muçulmanos, que levou ao cisma do Islã. O movimento Khajijita, que esteve muito ligado ao xiismo, não encontrou muito adesão entre os maometanos do Oriente Médio. Porém, no norte da África, eles encontraram apoio entre alguns grupos berberes, em contextos de conflito naquela região, e em contextos históricos específicos, como foi o caso do Califado Fatímiada. No entanto, este movimente perdeu muita força, até por conta do seu próprio pensamento radical. Contudo, na contemporaneidade uma vertente se manteve intacta entre a seita Ibadita, encontrada hoje entre muçulmanos da região do Omã, no sudeste da Península Arábica.

      É complicado esclarecer se houve benesse ou não, no contexto da atualidade do mundo muçulmano. Haja vista que, muito grupos em diferentes contexto históricos se aproveitaram desta heterogeneidade para agir na região do Grande Oriente Médio, adstrito de interesses internos ou externos. No caso do recorte histórico do meu ensaio, eu ressalto que a heterogeneidade, oriunda do cisma do islã, configurou uma clivagem política e ideológica na comunidade muçulmana, que, como eu afirma no texto, é percebido quando os exércitos Fatímiadas (muçulmanos), conquistam Jerusalém dos turcos seljúcidas (também muçulmanos), antes mesmo dos cristão, em um movimento dispare, e também ao mesmo tempo em que ocorri a vinda dos exércitos cristão ao Oriente, na conhecida “Primeira Cruzada Oficial”. Como se sabe, as cruzadas suscitaram uma serie de conflitos na região do Oriente Médio, entre os estados latinos que se formaram naquela região, e os califados e sultanados muçulmanos. Só obtendo uma resposta proporcional ao movimento “cruzadistico”, por parte dos muçulmanos, cerca de um século após a conquista de Jerusalém (séc. XI ao XII).

      Espero ter respondido sua pergunta.

      Atenciosamente

      Gustavo Afonso Bennato Teodosio.

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    2. Ótimo texto Gustavo! Obrigada pela contribuição. Sou iniciante no assunto e gostaria de entender se há e quais são alguns dos desdobramentos que essa heterogeneidade causa no ocidente.
      Nayara Brito Pereira

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  3. Em uma parte do texto é afirmado que os turcos seljúcidas dominaram Bagdá em 1055, porém o califado abássida se mantém até o ano de 1258, quando Bagdá é invadida pelos mongóis. Como se manteve a relação entre os governantes abássidas e os turcos seljúcidas neste período até a conquista mongol?
    Gabriel Toneli Rodrigues

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    1. Olá Gabriel, como afirmo em meu ensaio, “[...]Entre os séculos XI e XII, toda a área oriental foi dominada pelos Seldjúcidas, que se estabeleceram como governantes em Bagdá, em 1055,[...]”. Porém a relação de governança está mais atrelada ao fato do califa ser uma espécie de “fantoche” do chefes militares turcos, como afirmar neste fragmento: “[...]a situação entre a população de Bagdá e as milícias turcas (vindos da Ásia Central) não foi boa, levando a realocação da sede do califado (que era Bagdá) para ao norte, em Samarra, trazendo um alívio momentâneo a situação, mas, deixou o califa a mercê dos chefes militares turcos, que não demoram a tomar o controle e formarem seus próprios governos nas regiões centrais califado.[...]”. Consequentemente a isto, como descrevi no meu texto que, “[...]essas incursões turcas diminuíram o poder do Califa de Bagdá, limitando-o apenas a sua capital.”, por tanto, os sultanados turcos que haveriam de surgir nos territórios do antigo califado Abássida, diminuíram consideravelmente o poder do califado e do califa, que já estava em declínio muito antes ao advento dos insurreição dos turcos. Apenas a cidade de Bagdá ficou sob controle do califa, cidade está que era só uma sombra de um glorioso passado, de estimadas bibliotecas e fluxo cientifico, e que diante do cerco mongol não impeliu nenhuma resistência, caindo duas semanas após iniciado o ataque ( em 13 de fev, 1258).

      Posteriormente os mongóis continuariam suas conquistas pela Síria, Palestina, Anatólia, e Egito, fixando um canato na região e aos poucos introduzindo a cultura muçulmana aos seus costumes.

      Espero ter respondido sua pergunta.

      Atenciosamente

      Gustavo Afonso Bennato Teodosio.

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  4. Olá Gustavo! As duas maiores doutrinas religiosas da atualidade são o cristianismo e o islamismo com cerca de 3,6 bilhões de seguidores. Gostaria de saber se podemos credenciar as guerras como um dentre muitos fatores para o fortalecimento e a expansão do grande número de adeptos, seja com a vinda dos europeus na colonização das Américas e o próprio expansionismo do Islã nos diversos países africanos e sudeste asiático?

    Clésio Fernandes de Morais

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    1. Olá Clésio, de fato os empenhos ao conflito armado, que ambas as religiões de origem abraâmica perpetraram, ao longo do seu curso histórico, foram fundamentais para a expansão destas fés para além de seus locais de origem.

      No caso do Islã, como mencionado no texto, antes mesmo da morte do Profeta, os muçulmanos já estavam em um processo de “migração organizada” para outras regiões, como a palestina e a síria bizantina, e a pérsia sassânida. Nesta contenda, as populações regionais dominadas, foram sendo aos poucos aculturadas e orientadas a reversão ao Islã. Porém, houveram casos de grupos não muçulmanos, como as comunidades cristãs e judaicas, oriundas aqueles regiões, que eram obrigados a pagar a “jazya”, ou o “tributo do infiel”, aos governos locais. Gradualmente, algumas destas comunidades iriam se reverter a fé islâmica, deixando assim de pegar o tributo, como foi o caso de alguns cristão e judeus da península ibérica, no contexto do apogeu do Califado Omiada de Córdoba (séc. IX). Além disto, a organização militar dos exércitos árabes-muçulmanos, somados a pouco resistência que estes encontrariam por parte das antigas lideranças locais, que naquele momento se encontravam fragmentadas; seriam fatores importantes para esclarecer esta grande difusão da fé islâmica no Grande Oriente Médio.

      Agora, com relação aos Cristãos, se analisarmos o contexto dos antecedentes à vinda dos europeus a América, mas especificamente os portugueses. Veremos que a formação do Reino de Portugal está bem atrelado ao processo de reconquista da península ibérica, durante as Cruzada (séc. XI ao XIII); e que, as Cruzada, sendo uma serie de guerras e conflitos tanto fora quanto dentro da Europa, tinha por seus objetivos a luta contra infiéis, herege, como também durante este processo, expandir a fé cristã. Relacionando isto aos Portugueses, durante suas expansões pela África no século XV, havia um “espírito cruzadístico” que imperava sobre as ordens de cavalaria portuguesas, e este espírito se manteve até o momento das conquista ultramarinas na Índia e na América, difundindo a fé cristã por estas regiões.
      Por tanto, ao meu ver, há sim a possibilidade de credenciar a guerra, como um dos fatores para que houvesse a expansão das fé islâmica e cristã, porém respeitando o contexto histórico desta guerra e deste processo de expansão.

      Espero ter respondido sua pergunta.

      Atenciosamente

      Gustavo Afonso Bennato Teodosio.

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  5. Oi Gustavo. Parabéns pelo texto. A partir dessa heterogeneidade que apresentas no texto, o quanto ela é fator de preponderância nos processos migratórios que observamos nos dias de hoje, perante também aos fatores externos. Obrigado! Abraço!

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    1. Olá Maicon, creio eu que a heterogeneidade que se configurou na estrutura da comunidade muçulmana, que fora descrita no texto, é um dos fatores importantes para esclarecer o contexto que permeia o processo migratório atual. Se analisarmos as migrações vindas do Oriente Médio e da África, que em sua maioria foram em direção à Europa, percebe-se que a principal motivação para esse evento foram os conflitos regionais dos países de origem dos migrantes. Muitos desses conflitos no Oriente Médio e na África, foram e ainda são dissidências de grupos paramilitares muçulmanos sunitas, com um governo majoritariamente xiita, como é o caso da guerra civil Síria, e também da guerra Síria-Iraquiana contra o Daesh (ISIS ou “Estado Islâmico”), que é sunita com vertente wahhabita; mas também na guerra civil iraquiana o embate era entre a população xiita buscando vingança contra as atrocidades feitas pelo governo sunita de Saddan Hussein. Com relação ao grupos paramilitares citados, como o Daesh, Al-Qaeda, Hezbollah, todos estes são compostos por sunitas, porém existem grupos de maioria xiita como é o caso do Houthis, principal inimigo da Al-Qaeda.
      Por tanto, o contexto que permeia estes conflitos na atualidade também trazem ecos de uma antiga disputa que se originou no cerne na configuração do que seria o “mundo muçulmano”, porém é para que haja um analise coerente é necessário sempre partir do contexto histórico que pretende-se analisar.

      Espero ter respondido sua pergunta.

      Atenciosamente

      Gustavo Afonso Bennato Teodosio.

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  6. Ótimo texto Gustavo! Obrigada pela contribuição. Sou iniciante no assunto e gostaria de entender se há e quais são alguns dos desdobramentos que essa heterogeneidade causa no ocidente.
    Nayara Brito Pereira

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