Harley Pereira Silva

A APOCALÍPTICA JUDAICA COMO REFLEXO DA RELAÇÃO INTERCULTURAL NO ORIENTE PRÓXIMO ANTIGO

Introdução
Esse breve texto tem como objetivo principal analisar o fenômeno da Apocalíptica Judaica como um reflexo da relação intercultural que se desenvolveu no oriente próximo. Sob os domínios dos vários impérios, a saber, o babilônio, persa, grego (helênico) e romano, houve intensa troca cultural entre os Judeus (usarei aqui este termo de forma genérica como sinônimo de Hebreus, Filhos de Israel, Israelitas etc.) e os povos conquistadores, há vários relatos que descrevem esta interação. São exemplos claros: os contos de Ester, os relatos encontrados em Esdras, Neemias, os contos em Daniel cap. 1 a 6, dentre outros. Esses textos revelam que a interação entre os judeus e os povos que os dominaram era latente, consequentemente, é possível identificar nos textos apocalípticos judaicos características “estrangeiras” que demonstram o movimento de interculturalidade presente.

A Literatura Apocalíptica Judaica 
O período do Segundo Templo entre 516 AEC e 70 EC(Leite, 2015:63) é importantíssimo para a história da experiência religiosa judaica e, consequentemente, para a construção dos seus discursos. Neste período há uma importante gama de produção hebraica, em sua maioria escrita em grego, decorrente do crescente contato e absorção da cultura helenística trabalhada de forma assimilativa e adaptativa, adequando-se aos discursos judaicos do período. Não menos conhecidos, são os historiadores judeus, Fílon de Alexandria e Flávio Josefo que deixaram registros clássicos que foram e ainda são amplamente consultados pela comunidade acadêmica. (Koester, 2005:245-285)

A literatura apocalíptica judaica é um fenômeno que nasce no período do Segundo Templo. Fruto da busca por respostas às situações flagelantes as quais a nação israelita estava submetida, o discurso apocalíptico representa um importante ponto de inflexão na literatura religiosa judaica.O discurso apocalíptico judaico é constituído por certo conjunto de metáforas e temas particulares, detendo-se especialmente em tratar dos últimos tempos e de interpretar os acontecimentos do presente da comunidade inserindo-os na espiral escatológica. A busca pelo que vem a ser uma “Literatura Apocalíptica Judaica” passa inevitavelmente pela ideia do vem a ser um “apocalipse”. Este termo, desde muito tempo, desperta certa perplexidade em seus ouvintes e leitores, a interpretação do senso comum associa este verbete à catástrofe, destruição, fim do mundo dentre outras particularidades, cabe então aos campos dos saberes o trabalho de apresentar o sentido real desta palavra e, consequentemente, seus ambientes de origem e significado no tempo.

Desde a primeira parte do sec. XIX que os estudiosos se debruçam sobre os escritos ditos apocalípticos. Atualmente as pesquisas se encontram no seguinte estado, como afirma Collins (2010:18):

“As pesquisas acadêmicas mais recentes fazem distinção entre apocalipse como um gênero literário, apocalipticismo como uma ideologia social e escatologia apocalíptica como um conjunto de ideias e motivos literários que também podem ser encontrados em outros gêneros literários e contextos sociais.” Assim, é preciso que se entendam os conceitos inerentes a estes discursos para identificar as interações culturais aí presentes. 

A compreensão do que vem a ser o gênero literário “apocalipse” é de suma importância.Vários estudiosos ao longo do tempo buscaram delinear os contornos deste gênero, aqui adotamos a definição postulada por J.J. Collins, com a qual também concordam vários autores. Tal definição é considerada por grande parte da comunidade acadêmica uma das mais bem elaboradas definições do gênero apocalipse e foi fundamentada no trabalho de um grupo de pesquisadores norte-americanos na Society Biblical Literature (SBL) Genre Project, e divulgadas em Semeia 14, qual seja:

“Um gênero da literatura revelatória com uma estrutura narrativa, no qual a revelação a um receptor humano é mediada por um ser sobrenatural, desvendando uma realidade transcendente que tanto é temporal, na medida em que vislumbra a salvação escatológica, quanto espacial, na medida em que envolve outro mundo, sobrenatural” (Collins, 2010:22). Pela definição acima são considerados escritos apocalípticos judaicos várias seções de 1Enoque, Daniel, 4Esdras, 2Baruc, o Apocalipse de Abraão, 3Baruc, 2Enoque, Testamento de Levi 2-5, Apocalipse de Sofonias, Apocalipse de João, partes dos livros de Jubileus e Testamento de Abraão.

Além da caracterização de “apocalipse” como um gênero literário, autores como Collins, Hanson, Charlesworth e D. S. Russel argumentam a favor de outra característica importante do discurso apocalíptico, a sua Escatologia. A Escatologia dita apocalíptica é aqui compreendida de acordo com a orientação teórica de Paul Hanson (apud Soares, 2008:104), ou seja, “uma perspectiva religiosa [...] um modo de ver os planos divinos em relação com realidades mundanas”.Essa perspectiva religiosa entende a salvação divina como uma transformação que ocorre fora da ordem presente, ou seja, localiza-se temporalmente no futuro, que se caracterizará como uma nova realidade transformada.

Essa escatologia não está preocupada somente com a era futura, mas com a interpretação do passado e do presente, tendo em vista o julgamento cósmico futuro. Para a escatologia apocalíptica, a forma como se vive no presente ou como se viveu no passado definirá como se será julgado por Deus no futuro. Assim, a apocalíptica judaica apresenta uma escatologia ampla que se conforma dentro de cada tipo de apocalipse e é encontrada em textos que não se caracterizam como do gênero apocalíptico, mas contêm temas e motivos apocalípticos. Daí a essencialidade da escatologia apocalítica para a melhor compreensão do discurso apocalítico judaica.

Estes textos estão inseridos em uma visão de mundo, em “um sistema de pensamento que adota uma perspectiva escatológica apocalíptica”, como afirma D.S. Russel (1997:31), assim, há a possibilidade de se aceitar a existência de movimentos apocalípticos à medida que visões de mundo apocalípticas são postuladas. Collins (2010:34), afirma que um movimento pode ser considerado apocalíptico quando “quando partilha a estrutura conceitual do gênero, endossando uma visão de mundo na qual a revelação sobrenatural, o mundo celestial e o julgamento escatológico desempenham papéis essenciais”, e complementa essa informação ao afirmar que a visão de mundo do apocaliptcismo detém dois elementos cruciais: “(1) – a proeminência de elementos sobrenaturais, anjos e demônios, e sua influência nos assuntos humanos, e (2) a expectativa de um julgamento final não só das nações mas também dos humanos individualmente.” (Ibdem, 1998:147), assim a ideologia apocalíptica ou o apocalipticismo é parte essencial para a compreensão do discurso apocalíptico judaico.

Evidencias de Interculturalidade nos textos apocalípticos
De acordo com Koester e Collins há evidências suficientes para acreditar em uma frutífera interação cultural entre os judeus e os povos que os dominaram, e dessa interação surgiram muitas das características dos textos apocalípticos. Collins afirma categoricamente que “os apocalipses beberam de várias correntes de tradições e que o novo produto é mais do que a soma de suas fontes” (2010:46), ou seja, há nas entrelinhas dos apocalipses elementos “estrangeiros” que foram adaptados à cosmovisão judaica do período. A seguir se pretende colocar em alto relevo estes elementos, separando-os em matrizes, as quais nomearemos: babilônia, persa e helenística.

Matriz Babilônia
Como já mencionado, o discurso apocalíptico foi construído a partir de várias fontes, sendo as influencias das fontes em maior ou menor grau, o que não é diferente com as possíveis influências babilônicas nos textos apocalípticos. Oque chama a atenção inicialmente acerca deste aspecto é a “proeminência do folclore babilônico tanto no Livro dos Vigilantes quanto no Livro Astronômico”(Collins, 2010:51-52), ambos inseridos no texto de 1Enoc, e a forte presença de características babilônicas nos primeiros seis capítulos de Daniel (Ibdem).

As afinidades das revelações apocalípticas hebraicas e seus personagens, mais precisamente em 1Enoque e Daniel, com o a “sabedoria mântica” dos caldeus é salientada por vários estudiosos. Collins argumenta que “Daniel, nos contos (Daniel 1-6), opera como um sábio babilônico, habilidoso na interpretação de sonhos. A figura de Enoque é, em certa medida, moldada como Enmeduranki, fundador da guilda de barûs, os advinhos babilônicos.” (Ibdem, p.82), outra aproximação importante está na similaridade entre os métodos de revelação apocalíptica e da adivinhação, pois ambos utilizam-se da interpretação de sinais e símbolos misteriosos dotados de acentuadas matizes de determinismo.

Outro elemento que aproxima as tradições Babilônicas com as Judaicas é a Profecia Acadiana. De acordo com Grayson, a profecia acadiana é definida como “uma composição em prosa que consiste principalmente numa quantidade de ‘predições’ de eventos passados [...] o autor, em outras palavras utiliza a vaticinia ex eventu para estabelecer a credibilidade” (apud COLLINS, J. J. op. cit. p. 53), a afinidade dessas profecias (acadianas) com os apocalipses judaicos está no seu uso do recurso vaticinia ex-eventu, como se pode perceber neste trecho: “um príncipe se erguerá [...] um outro homem, que é desconhecido, se erguerá” foi acertadamente comparada com Daniel 11 ou Daniel 8.23-25” (Ibdem). Nessaampla colcha de retalhos que é o discurso apocalíptico, as profecias acadianas fornecem um importante elemento dos apocalipses históricos, que são aqueles que apresentam uma revisão da história politica, social e religiosa da nação.

Há ainda, mais um elemento aproximador destas culturas, as revelações por “visões oníricas” (visões em sonhos). Delineadas por Helge Kvanvig (Collins, 2010:54-55), as visões oníricas acadianas apresentam um sonhador chamado Kummaya que vai ao mundo dos mortos, tem contatos com os deuses e retorna, o que caracteriza em certa medida uma viagem além-mundo, modo muito comum de revelação nos apocalipses judaicos. Mesmo que não haja um paralelo claro com os textos apocalípticos judaicos, não se pode deixar de notar que “haja uma relação entre essas visões oníricas acadianas e o gênero apocalipse, especialmente os apocalipses que descrevem a ascensão do visionário ao trono divino” (Ibdem, p.55) ainda que as visões oníricas não sejam um apocalipse, em virtude da falta de escatologia, ainda assim é importante pois apresenta o precedente da visão onírica que é a principal forma de revelação apocalíptica. É certo dizer que as possíveis fontes babilônicas não são suficientemente completas para a construção do gênero apocalipse. Entretanto podemos assinalar duas aproximações importantes entra as tradições babilônicas e judaicas, que podem ter sido importantes para a construção do mesmo. Em primeiro lugar, a semelhança entre o decifrar mistérios e adivinhações com as revelações apocalípticas e em segundo lugar, é correto creditar a uma influência babilônica à afinidade encontrada entre a sabedoria mântica e a revelação apocalíptica, ainda que em parte.

Matriz Persa
Juntamente com a profecia pós-exílica judaica, o apocaliptcismo persa é considerado por muitos estudiosos uma das grandes influencias do pensamento apocalíptico judaico. Isso se dá em virtude, principalmente, da notável influência percebida nos manuscritos de Qumran, com sua forte dualidade cósmica “luz x trevas”, “Filhos da Luz x Filhos de Belial” etc. que é possível perceber uma “presença persa” no discurso apocalíptico judaico, é fato, entretanto, cabe salientar que esta pode ser menor do que se pensa.

Rastreando as tradições antigas nos Avesta (Livros Sagrados do Zoroastrismo), encontram-se paralelos interessantes com os apocalipses judaicos. Um exemplo é o texto “zand-i Vohuman Yasn, ou Bahamn Yasht”, que retrata um visão de Zaratrusta na qual ele se depara com uma “árvore com quatro ramos” que seriam quatro reinos, guardando semelhança com o esquema de quatro reinos encontrado em Daniel e até mesmo com o esquema de reinos e milênios encontrado em 1Enoque. Ao analisar esta obra Collins afirma que “esta é a única obra persa ainda existente que combina o modo de revelação apocalíptica com uma elaborada periodização da história e escatologia” (Collins, 2010:58) e complementa dizendo que está claro que a periodização, a sucessão milenial e o determinismo são elementos integrais na teologia persa.

Voltando alguns séculos encontramos exemplos de rastros da religião persa no tratado de Plutarco Sobre Ísis e Osíris, no está contido que “Ahura Mazda e Ahriman estão em conflito: por três mil anos, alternadamente, um deus dominará o outro e será dominado, e por outros três mil anos eles lutarão e guerrearão, até que um quebre o domínio do outro. No final, Hades perecerá e os homens serão felizes” (Ibdem),assim, podemos concluir que a noção de um conflito dualista e a divisão da história em períodos exatos representam parte do pensamento persa no mundo helenístico.

Outro testemunho da antiguidade deste discurso persa é o “Oráculo de Hystapes”, que se encontra nas “Instituições Divinas” de Lactâncio. Este texto é dotado de uma revelação Outro testemunho da antiguidade deste discurso persa é o “Oráculo de Hystapes”, que se encontra nas “Instituições Divinas” de Lactâncio. Este texto é dotado de uma revelação onírica nos moldes de Daniel 2, ou seja, trás em si distúrbio político e referencias á destruição do mundo através do fogo, além de várias descrições de sinais semelhantes aos encontrados no Bahman Yasht e com o Bundahisn. Os apocalipses de Jornadas Celestiais também têm paralelos na literatura persa, um exemplo é o texto contido no Livro de Arda Viraf, ainda que datado do séc. IX E.C. O livro descreve as visões de um sacerdote chamado Viraf que conheceu o céu e o inferno sendo auxiliado por anjos intérpretes, modelo tipicamente comum nos apocalipses.

Assim, o que se pode concluir, é que os apocalipses persas ou os textos persas com motivos literários apocalípticos são bem abrangentes e, certamente guardam paralelos interessantes com a tradição judaica do mesmo gênero.

Matriz Greco-Romana (Helenística)
O período helenístico é um dos mais importantes para a história da humanidade, principalmente no que se refere ao locus do oriente próximo e da região banhada pelo mediterrâneo. Helmut Koester afirma que a influência grega na palestina aumenta a partir dos séculos V e IV A.E.C.119 tal “presença” grega é percebida não somente nas regiões litorâneas, mas agora nas regiões continentais, segundo o mesmo autor, onde “moedas judaicas imitavam o dracma ático e podiam figurar a imagem de Zeus ou da coruja ateniense. Mercenários gregos serviam em muitas partes do reino persa” (2005:212-213)

Falando especificamente dos judeus, Helmut Koester (Ibdem, p.13) afirma que o processo de helenização que se inicia no início do período helenístico afetou todo o país, inclusive Jerusalém, para ele “as cidades foram os principais agentes de helenização”. Sobre isso diz:

“A consequência foi a implantação elementos culturais gregos ou orientais helenizados, de um novo estilo de vida e de cultos estrangeiros. Os deuses cultuados nessas cidades eram divindades orientais com nomes gregos (p. ex. Astarte como Afrodite em Ascalon) ou deuses gregos, como Dionísio em Citópolis, cujas moedas trazem o nome Nisa, berço mitológico de Dionísio, como nome oficial da cidade.” (Ibdem)

Este fato trás consequências claras ao contexto de produção dos textos judaicos do período do Segundo Templo. Collins afirma que, o helenismo forneceu momentos de crises e choques que de certa forma fomentaram uma reação intelectual dos escritores judeus de Daniel e 1Enoque. Podemos concordar com Collins quando afirma que “no sentido mais amplo, a matriz dos apocalipses judaicos não é qualquer tradição específica, mas o contexto helenístico, no qual motivos literários de várias tradições circulavam livremente” (Collins, 1998: 137,146). Para Collins, há uma aproximação considerável entre os motivos literários de muitos textos apocalípticos greco-romanos da antiguidade com os apocalipses judaicos. De acordo este autor, podemos encontrar os paralelos entre as duas tradições em textos reunidos em torno de dois motivos literários comuns aos apocalipses. Os primeiros, ligados ao primeiro motivo literário, são os que descrevem Jornadas sobrenaturais, seja ao céu ou ao mundo dos mortos; o segundo, ligado ao motivo literário das profecias escatológicas, trás textos ligados a apocalipses que revisam a história.

No primeiro grupo, podemos citar: o Livro 11 da Odisséia de Homero, a sátira de Menippus de Gadara (na palestina), o mito de Er de Platão (em A República, livro 10), Somnium Scipionis de Cícero, De Genio Socratis (21-22) e De sera numinis vindicta (22-31) de Plutarco, estes textos apesar de seus cunhos filosóficos apresentam uma similaridade na estrutura conceitual. marcante com os apocalipses judaicos. Outro exemplo de jornada sobrenatural que pode ser levado em consideração está no livro 6 da Eneida de Virgílio, onde Eneias é acompanhado ao inferno por Sibila e há também uma profecia da grandeza de Roma no futuro. Estas jornadas sobrenaturais aproximam-se dos apocalipses judeus à medida que tratam com a escatologia pessoal ou com a vida após a morte. É certo que há diferenças marcantes entre os textos greco-romanos e os judaicos, mas é latente que a noção de vida após a morte e a noção de julgamento dos mortos seja tão difundida nos tempos helenísticos em várias formas diferentes. (Collins, 2010:63-64)

No segundo grupo, temos aqueles relacionados com a revisão da história, podemos citar: “Alexandra de Lycophron”, que tem o propósito de glorificar os troianos e seus descendentes os romanos; dentro do universo helenístico podemos citar a “Profecia Dinástica” babilônia, o já citado “Oráculo de Hystapes” persa, os egípcios “Repreensões de Ipuwer” e a “Visão de Neferrohu”; tem-se ainda a “Crônica Demótica” que é uma espécie de comentário de tradições antigas; Um exemplo importante do período helenístico egípcio é o “Oráculo do Oleiro” que como os supramencionados apresentam muitas profecias “ex-eventu”, uma característica dos textos apocalípticos, descrevem destruição, invasão e renovação. (Ibdem, p. 64-65)

Assim, é possível perceber a presença “helenística” nos apocalipses judaicos, ainda que estes tenhas suas próprias rotinas internas, sendo claramente textos originais e não cópias das tradições circunvizinhas.

Conclusão
Ao fim deste pequeno texto, é possível afirmar que a interação cultural no oriente próximo influenciou diretamente a produção literária religiosa judaica, aqui se referindo à tradição apocalíptica, dentre as quais podemos citar o conhecido livro canônico de Daniel, dentro do universo apocalíptico, mas também muitas outras obras não canônicas, mas que certamente influenciaram a escrita de outros textos importantes como os livros do Novo Testamento, texto este que até a nossa atualidade influenciam diretamente a vida política, social, afetiva e religiosa de boa parte do ocidente e oriente. Daí compreendermos que o contato cultural gera um movimento circular da cultura como nos demonstrou sabiamente Guinzburg (2006:10) e que este movimento gera outros que vão delinear atitudes e respostas. Não seria o caso de repensarmos como estão sendo mediados os contatos inter-religiosos? E, na medida do possível buscar uma solução não belicosa para as diferentes opiniões que sempre vão existir em sociedades? Os fatos do passado nos deixam esta reflexão atual.

Referências
Harley Pereira Silva é graduando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - (UNIRIO); Membro do Núcleo de Estudos de Cristianismos no Oriente (NECO, GT-HR/ANPUH-RIO) e do Grupo de Pesquisa do CNPq, Memória e Culto na Literatura Bíblica (GT-HR/ANPUH-RIO).
Orientador: Prof. Dr. Edgard Leite Ferreira Neto.
E-mail: harleyhistoria32@gmail.com.
CL: http://lattes.cnpq.br/3905924268827278.

COLLINS, John J. A imaginação Apocalíptica: uma introdução à apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 2010.
_______. The encyclopedia of Apocalypticism: The origins of apocalypticism in Judaism and Christianity. v.1. New York: The Continuum Publishing, 1998.
GINZBURG, C. O Queijo e Os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição.  São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
KOESTER, Helmut. Introdução ao novo testamento: história, cultura e religião do período helenístico. São Paulo: Paulus, 2005. v.1.
LEITE, Edgard. Leituras infinitas: instante e eternidade na literatura judaica de Jó a Yohaman Bem Zakkai. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2015.
RUSSEL, D. S. Desvelamento Divino: uma introdução à apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 1997.
SOARES, D. O. Apocalíptica como gênero de expressão. Revista Horizonte, v.7, n. 13: Belo Horizonte: 2008.

7 comentários:

  1. Bom dia, Harley!
    Excelente tema e ótimo texto.
    É possível relacionarmos os vários movimentos de cunho messiânicos ocorridos no Século I E.C. com a apocalíptica judaicas?
    Pelo que entendi, apocalipse nem sempre quer dizer tragédia, seria isso mesmo? Obrigado.
    Bruno da S. Ogeda - FSB/RJ

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  2. Olá Bruno, boa noite.
    Obrigado e fico feliz que tenhas gostado do texto. Respondendo a seu questionamento: Sim, o a apocalíptica judaica influenciou diretamente os vários movimentos messiânicos tanto do seculo I EC quanto dos dois seculos anteriores. A fim de exemplificar podemos citar o Livro canônico de Daniel e o Pseudoepígrafo 1Enoque ou Enoque Etíope, que são dois exemplares de Textos do gênero "apocalipses" mais antigos da tradição judaica, fazem claramente menção à figura do Messias, do Ungido, do Eleito, etc. Para Finalizar, podemos afirmar que o Movimento de Jesus de Nazaré, que deu origem ao Cristianismo, foi um movimento messianico apocalíptico na medida que proclama a "chegada do Reino de Deus" e sua consequente transformação da realidade, advoga a presença de seres espirituais na vida das pessoas comuns (espíritos imundos,etc.) e argumentam a favor de um julgamento cósmico com ressurreição dos mortos.
    Sobre o termo "apocalipse", este significa literalmente "revelação", "desvelamento" e aqui nesse texto é entendido como um gênero literário que tem características específicas como já citado no texto, e não significa necessariamente catástrofe ou fim do mundo.
    Espero ter respondido sua pergunta, abraços e me coloco à disposição.

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  3. Bom dia, Harley ... sem querer, deletei minha pergunta. Vou tentar colocar novamente.

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  4. Bom dia, Harley ... Em seu trabalho, está colocado a influência de diversas matrizes - babilônica, persa e greco-romana - na constituição da apocalíptica judaica. Não foi detectado uma influência egípcia nesses textos, considerando que os judeus tiveram extenso contato com os egípcios - conforme a Bíblia (Gênesis), desde Abraão -, sendo que historicamente, esse contato vai ocorrer até o início da época cristã? Esclareço que quando falo de influência egípcia, não me refiro ao Egito grego, pois aí já ocorre uma grande influência de crenças, totalmente sem ligação com o pensamento egípcio original.
    Wilson Aguiar Filho (UNIRIO/RJ)

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    1. Olá Wilson, boa noite.
      Seu comentário é muito pertinente, realmente há um extenso contato entre os egípcios e os hebreus desde os tempos dos patriarcas, aqui uso como fonte somente a Bíblia Judaico-Cristã. Em muitos momentos vemos o Egito como nação interage com Israel, como exemplo podemos citar as fugas de Abrão e Isaac e ainda a ida de Jacó e seus filhos, a história de José, e não menos importante a ascensão de Moises o grande líder Hebreu como "cria" de uma educação egípcia. Entretanto, até as ultimas análises dos discursos apocalípticos, podemos dizer que não há, ou ainda não foi observada, uma influência direta dos Egípicios (antigos) na cosntrução do imaginário apocalíptico judaico, eu particularmente credito isso ao fato de o discurso apocalípse surgir em um espaço temporal bem recente, quando comparado com a "antiguidade" dos mitos egípcios e ainda à uma certa constatação de que à epoca de sua genese, o Egíto já não era mais uma nação tão influente no mediterraneo, este papel era agora desempenhado pelos Persas e Gregos. espero ter me feito entender, abraços!
      Harley.

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  5. Boa noite Harley Pereira!
    Na tradição judaica apocalipse nós remete para ideias de juízo e da esperança, normalmente anunciados por profetas.
    Muitos desses escritos foram gerados em meio a perseguições e grandes lutas pela sobrevivência. Muitas das visões eram de que o bem teria triunfo sobre o mal.
    Quanto ao questionamento final, penso que é sim o caso de repensarmos os contatos inter-religiosos e aumentar a comunicação entre as religiões para viabilizar o aumento do ecumenismo de forma pacífica.
    Encerro perguntando se mesmo com a interação social que aconteceu, podemos pensar que tanto os judeus, ou hebreus e os outros povos semitas tiveram as mesmas fontes primárias para seus escritos apocalípticos?
    Atenciosamente
    Acirai Lopes de Almeida

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